Nitin Sawhney feet. Reena Bhardwaj,
“Mausam”, in https://www.youtube.com/watch?v=we_rzbqBrZM
Dos manuais: vêm aí as árvores com folhagem nova, as flores
abundantes, uma constelação de cores nas flores que irradiam perfume prolixo,
os dias maiores, a temperatura amena, a exiguidade da chuva.
As pessoas predispõem-se a uma diferença estrutural. Mudam
o rosto para o formato primaveril. Dispõem-se a arquivar o rosto sisudo encomendado
pelos terríveis dias de invernia. Reaprendem a sorrir. Sorriem. Acreditam que vão
ficar felizes e bem-dispostas com a bênção do tirocínio primaveril. Fixam-se
num demorado enlevo com os primeiros dias soalheiros que já não convivem com o
frio invernal. Começam a despir as roupas fartas que as protegiam dos
avassaladores ataques do inverno. O solstício da primavera surte um efeito
semelhante ao da mudança de ano: há resoluções assinaladas com a solenidade do solstício
primaveril, como se as pessoas abdicassem de uma espécie de hibernação e se prometessem
a devolução da inteireza.
Chegam os dias maiores, as manhãs já não tingidas pelo
plúmbeo nevoeiro, as primeiras flores que irrompem dos arbustos, as árvores a
recuperarem da nudez imposta pela estação do imperativo recolhimento. E as
pessoas, extasiadas com o poder telúrico da primavera, rimam com a transfiguração
dos elementos. Ou acham que assim acontece. Não há nada como o poder da sugestão.
E se a sugestão irrompe com o afã primaveril, deixai as pessoas entregues ao
seu renascimento. Não interessa que o dia da inauguração da primavera seja só
um. Ou que as provas da primavera se diluam à medida da instalação da primavera.
Os propósitos solenes e o poder medicinal da estação que devolve as cores e os
aromas ao mundo instalado, perdem espessura.
Tudo regressa ao estado de sempre. E nem as flores
garridas, nem as árvores ostentando viçosa folhagem, nem os dias que crescem até
ao ocaso da primavera, nem os dias constantemente soalheiros e amenos, nada ateia
o fogo da transfiguração que os alvores da primavera fazem prometer por dentro
das veias. Tudo volta ao mesmo.
Assim sendo: concentre-se a essência dos sentidos no dia
da sagração da primavera. Quando o inverno é enfim deposto e a primavera
agarrada, com toda a possança, nos braços das pessoas entristecidas com a
demora da invernia. Concentre-se a essência de todas as coisas nesse dia inaugural.
Pois o efusivo da celebração afrouxa à medida que a primavera deixar de ser
novidade e a normalidade instalada vier a ser, outra vez, a bitola consabida.
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