18.2.04

A emergência do sexismo feminista

Já em tempos escrevi (não no blogue) sobre a viabilidade de um movimento “masculinista” que reaja contra excessos feministas. Esses excessos que se agarram à “discriminação positiva” e não hesitam em torpedear os homens com um estatuto de menoridade. No passado domingo deparei com mais uma entronização do feminismo. Não de um feminismo exaltado, ao jeito dos anacrónicos movimentos de defesa dos direitos das mulheres. Foi um artigo de opinião de Maria Filomena Mónica (MFM), alguém que não costuma embarcar no barco histérico onde navegam as exacerbadas feministas do país.

A crer na exactidão das ciências que tratam a genética, adverte MFM, “os homens são apenas mulheres geneticamente modificadas”. Começou aqui a minha preocupação. Afinal os meus genes contêm em si imensos elementos femininos que, todavia, foram asfixiados durante a concepção, para vingar um malvado gene masculino que fez de mim homem? Se calhar é por isso que às vezes dou comigo convencido que tenho o famoso “sexto sentido” feminino...

Se todos os seres humanos que não são mulheres mais não são do que mulheres mascaradas de homens, sinto-me lançado no abismo. Ponho-me a pensar no que sentirá uma mulher lésbica. A natureza encarregou-se de a tornar “perfeita” como criação humana - porque é uma mulher. Porém, as mulheres homossexuais, especialmente aquelas que assumem “comportamentos masculinos”, devem viver amarradas a uma angustiante contradição interna: elas gostariam de ser homens.

E o que dizer dos homens que descaem para comportamentos efeminados? São homens, logo sobre eles caiu o manto diáfano da subversão genética. Mas preferiam ser mulheres, gostariam que o diabólico mecanismo genético que asfixia os genes femininos não tivesse sido desencadeado no seu caso particular. São homens a contra-gosto, decerto comprovando a asserção de MFM (e dos cientistas em que se apoia) de que todos os humanos são mulheres por definição.

Compreendo agora o alcance do axioma de MFM. Na transsexualidade, os casos que aparecem em público são de homens transformados em mulheres. São os homens que se sujeitam a dolorosas operações cirúrgicas e passam por um longo processo de ingestão de hormonas femininas, tudo para deixarem a sua condição masculina e abraçarem uma feminilidade que estava castrada pelas sinuosidades da natureza. Mas não se vê mulheres a surgirem transformadas em homens. A transsexualidade acaba por ser uma demonstração evidente de como somos todos mulheres em potencial!

MFM tenta provar a superioridade das mulheres com a vulnerabilidade do cromossoma Y, em contraponto com a solidez e indestrutibilidade do cromossoma X. A decrescente taxa de fertilidade dos homens é a evidência. E aventura-se num cenário dantesco (digo eu, não ela): “dentro de cerca 125.000 anos, os homens estarão extintos”! Escudando-se outra vez em estudos científicos, MFM tranquiliza a espécie humana. Na verdade, “no mundo científico, há quem defenda ser possível unir um óvulo a outro, em vez de o unir a um espermatozóide, mantendo assim viva a espécie humana, embora exclusivamente sob a forma feminina”.

Cá está, dentro dos tais 125.000 anos o mundo será finalmente perfeito, só com mulheres. Não restará um único espécime do género masculino para amostra. Então deixará de fazer sentido, finalmente, falar em desigualdade dos sexos. Também não fará sentido falar-se de homossexualidade. Se todas as pessoas serão mulheres, só há um sexo. Ou será que, para gáudio dos representantes dos direitos das homossexuais, essa será a sociedade perfeita, justamente porque não haverá heterossexualidade, restringida pelas artes da natureza que nos transformará a todos em pessoas do sexo feminino?

Tenho que confessar que a leitura do artigo de MFM me deixou profundamente baralhado!

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