O governo deu a conhecer uma proposta de lei que visa proibir o tabaco nos locais de trabalho. Apetece-me relatar uma experiência vivida em Londres, no ano passado. Por onde passasse havia sempre um magote de pessoas a fumar à porta dos prédios que alojam escritórios de empresas. Ao início estranhei a concentração. Depois informei-me. O governo de Blair, corporizando a sanha persecutória aos fumadores, aprovara legislação que proíbe o tabaco nos locais de trabalho. A reacção dos fumadores era a de interromperem as suas tarefas, deslocando-se até ao exterior para fumarem o cigarro da praxe.
Deixava deslizar os olhos pelas torres acima e contava os andares do edifício. Em muitos casos, vinte, trinta andares. Pus-me a imaginar as consequências desta lei higiénica. Imensas pessoas ausentando-se temporariamente do local de trabalho para o vício do fumo. Apanhar o elevador até à saída do prédio. Fumar o cigarro. Conviver com outros colegas que também se dedicavam o mesmo. Prolongar os momentos votados à degustação do cigarro, por entre uma conversa que se alonga por mais minutos do que os necessários. Reentrar no edifício e esperar pelo elevador. Finalmente, subir até ao local de trabalho. Só então retomar as tarefas.
Em todo este movimento (quantas vezes repetido ao dia?), quantos minutos de trabalho são perdidos? Quanta produtividade e riqueza nacional não são sacrificadas? Em nome de uma perseguição sanitária que tenta ostracizar os fumadores. Supostamente para proteger a saúde dos não fumadores. Supostamente para tornar os locais de trabalho imunes à poluição tabagista. Interrogo-me se não seria mais ajuizado criar, dentro das empresas, zonas reservadas aos fumadores, sem prejudicar tanto a produtividade das empresas.
Esta lei apenas cria as condições para que o país, como um todo, passe a produzir menos riqueza. Cabe, pois, a pergunta: estes anseios higiénicos são um imperativo tão prioritário que mereça o sacrifício da riqueza nacional? Não me parece. Mais ainda porque há uma outra dimensão que não pode ser omitida: a interferência ainda mais acentuada na esfera individual de cada pessoa que é fumadora. Aqui estou à vontade para falar contra a lei proposta pelo governo. Não sendo fumador, nem nunca o tendo sido, convivo melhor com os fumadores do que com os que exprimem publicamente o seu fundamentalismo anti-tabagista.
Em consequência desta perseguição anti-tabagista, os fumadores são levados à conclusão de que devem ser mais cuidadosos quando sacam de um cigarro. Sabendo que têm uma sociedade cada vez mais persecutória de olho neles, tudo se conjuga para que, espontaneamente, os fumadores sejam mais cuidadosos para não atentarem contra os interesses dos não fumadores. Se, por pressão social, os fumadores sentem uma obrigação de respeito para com os não fumadores, as leis não são para aqui chamadas.
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