Num texto brilhante, publicado no Diário de Notícias, Miguel Poiares Maduro faz uma reflexão mordaz sobre o desamor que atinge tanta gente. Num texto impregnado de um humor corrosivo, Poiares Maduro questiona a ausência do Estado na regulamentação do amor. Pois o amor (melhor, os seus desencontros) é tantas vezes causa de maleitas que deprimem o ser humano. O Estado não existe para suprir as deficiências da sociedade que impedem o bem-estar?
Se o Estado interviesse no amor, levando até ao fim a sua saga da justiça social e da igualdade forçada, devia garantir um mínimo de amor a todas as pessoas. Seria como uma espécie de redistribuição, só que em vez de operar sobre o rendimento actuaria sobre o amor: tirar aos mais afortunados para distribuir pelos que andam desalinhados com o amor.
Interrogo-me: porque não olhar para o exemplo do amor, plano de total passividade do Estado, e estender esta linha de conduta para outros domínios em que, também neles, devia vingar o respeito pelo livre arbítrio de cada indivíduo? Tal como no amor, em que é o íntimo de cada um que impera, em muitos outros domínios o Estado devia pôr-se à margem para não interferir com a esfera privada de cada pessoa. O Estado está – e bem – alheado das sinuosidades do amor. Devia aprender com esta lição e abdicar da intervenção em tantos outros domínios.
Nunca se sabe, nos tempos que correm, se a evolução é no sentido contrário. Quem sabe se, num dia destes, até no amor o Estado vai meter o seu bedelho…
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