Ontem deparei com um texto da ex-diplomata e proto-ministra dos negócios estrangeiros se os socialistas regressarem ao poder, a inenarrável Ana Gomes. Num blog colectivo (Causa Nossa) onde escrevem pessoas conotadas com o PS, Ana Gomes perorou sobre as eleições espanholas ao seu estilo caceteiro. Com o título “Arriba España! Portugal não tardará…”, a senhora dá provas do tacto que andou reprimido enquanto teve o sacrifício de exercer as funções de diplomata.
Compreendo a exultação com a vitória dos camaradas socialistas espanhóis. Que se façam extrapolações para Portugal é um exercício mais duvidoso, próprio de quem anda obcecado com uma desdita que vem do passado. Não têm conta as vezes que ouvimos ou lemos Ana Gomes a bater sem piedade no seu ex-companheiro de lutas no MRPP, Durão Barroso. Não sei se há aqui algum conflito de consciência que reprime o íntimo da senhora. Nem tão pouco se esta perseguição impiedosa é resultado de arrufos sentimentais mal resolvidos que ainda vêm desse passado.
Quando pensava que a política nacional já tinha batido no fundo, arrostando um fardo enorme de descredibilização, afinal era ainda possível empurrá-la mais para o fundo. A coveira tem um nome – Ana Gomes.
Com o texto ontem publicado no Causa Nossa, fiquei a conhecer outra qualidade de Ana Gomes: uma profetiza de calibre, rivalizando com o bruxo Alexandrino. A crer nas palavras premonitórias da deputada socialista, a lição de Espanha em breve se vai estender a Portugal. “É o que inevitavelmente vai acontecer à Direita no poder em Portugal, aliás bastante mais incompetente que a sua congénere espanhola. Talvez mais cedo do que muitos contavam. (...) Já sabíamos que a Direita que o Primeiro Ministro encabeça é de segunda, paroquial, subserviente, julgando engrandecer-se na prestação de vassalagens. Não tardará muito, os portugueses explicar-lhe-ão que só lhe resta mesmo a companhia que adulava e o caminho que ela levou: com o PP, Aznar e Rajoy, para o olho da rua!”
Já li opiniões que enaltecem a entrada em cena deste espécime raro de hiper-actividade e desbragamento verbal. Com o argumento de que ela é uma “pedrada no charco”, por não hesitar em afrontar o cinzentismo do politicamente correcto que domina a classe política, aplaude-se a frontalidade e o discernimento de Ana Gomes. Que ela é uma pedrada no charco, também estou de acordo. Mas pode-se ser uma pedrada no charco sem ser uma lufada de ar fresco. É aqui que Ana Gomes se enquadra. Ela é a pedrada num charco feito de uma lama fétida. Quando a pedra cai com fragor no charco, os salpicos enlameiam ainda mais o bolorento universo da política doméstica. Do alto da sua incontinência verbal, Ana Gomes tem sido uma ajuda preciosa ao triste espectáculo que a política nacional não para de nos oferecer.
Ainda bem que Ana Gomes é a número três da lista do PS para o Parlamento Europeu. Espero que, no rescaldo do sufrágio, os eleitores não sejam enganados pela engenharia partidária que domina a composição das listas de candidatos. Ou seja, que uma vez eleita para o Parlamento Europeu, a senhora vá pregar para outra freguesia e deixe de infestar com o seu mau hálito o ambiente político nacional.
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