Sinto-me dividido ao escrever sobre o dia internacional da mulher. Parte de mim empurra-me para a elegia dessa criatura maravilhosa que preenche tanto tempo da vida de cada homem. Outra parte leva-me a suspeitar da ênfase que se coloca nos festejos da efeméride, uma entre tantas manifestações de sexismo barato que coloca a mulher no pedestal e desvaloriza o sexo masculino. Como se fosse um prolongado acerto de contas com o passado, como se essa infamante coisa chamada “discriminação positiva” fosse um bem elogiável.
A minha metade de complacência pela comemoração encontra justificação nas necessárias homenagens que temos que prestar à mulher. À mulher-mãe que nos pôs no mundo e tanto deu de si para formar o que somos; à mulher que amamos, responsável por sensações singulares que edificam o nosso ser; à mulher amiga, sempre um ombro consolador com a sua particular sensibilidade para escutar coisas que o ombro masculino amigo não tem capacidade de entender. A toda e qualquer mulher, sem descair para elegias piegas que se confundem com complexos de Édipo mal resolvidos. Como o daqueles escritores que não vacilam em elevar a mulher a uma condição suprema e intocável, que não desdenhariam transformar o mundo numa sociedade definitivamente matriarcal.
Esses escritores que sublimam, e bem, a especial sensibilidade feminina. Aquela força indomável que se esconde por detrás de uma máscara de fragilidade que se rompe naqueles momentos em que a força coriácea mais necessária é. Esses mesmos escritores que insistem em fazer da mulher um deus com pés de barro, como se a natureza feminina fosse tão diferente do sangue e da carne que compõem o sexo masculino.
Intriga-me esta valorização excessiva da mulher, que tem correspondência numa atitude oposta de flagelar o papel do sexo masculino – esse hediondo opressor, fautor de todos os males que afligem o mundo. Vejo estes cantores da superioridade feminina como alguém que não conseguiu resolver conflitos interiores. Como se quisessem ser mulheres mas não consigam libertar-se da asfixiante marca da masculinidade que transportam consigo.
A outra parte de mim não consegue compreender a necessidade de vincar a toda a hora uma igualdade forçada de sexos que é responsável por tantas situações de desigualdade que castigam o sexo masculino. Isto soa-me a uma vingança com o passado em que os homens, por sua culpa, devotaram um papel secundário às mulheres e nunca hesitaram em espezinhar os direitos mais básicos delas enquanto seres humanos. Ignorar esta realidade é de um autismo atroz que, creio, nenhum homem consciente se atreverá a fazer.
Não é com erros iguais aos do passado que se constrói um futuro isento de mácula. Não é com a tenebrosa discriminação positiva que se eleva a mulher a um papel de igualdade forçada com o homem. Como se tudo tivesse que respeitar quotas assépticas, em que mulheres e homens repartam por igual cargos na administração pública, na política, nas direcções de empresas, etc. Caminhar neste sentido é negar o papel do mérito e nivelar por baixo a qualificação da sociedade.
Numa era em que os dias internacionais de tudo-e-de-mais-alguma-coisa acabam por retirar sentido ao que se pretende comemorar, festejar o dia internacional da mulher apenas relembra o passado obscuro. Uma cruz que a humanidade tem que carregar para todo o sempre. Como se a humanidade não aprenda com os erros do passado. Insistir nestas comemorações – que, ano após ano, se vão esvaziando de conteúdo – é o caminho mais insensato para fazer da mulher aquilo que os movimentos feministas não querem que ela seja – o sexo menor.
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