Red Bull, a bebida energética. Há quem acuse o produto de estar encharcado em cafeína, produzindo efeitos nefastos, por exemplo para desportistas que necessitam de recuperar energias após o esforço físico. Há quem diga que provoca dependência nos noctívagos que os bebem uns atrás dos outros para aguentarem uma noite cheia de ritmo. Outros levantam a sua voz contra a mistura explosiva de Red Bull com bebidas brancas, em cocktails alucinantes.
Como sempre, há vozes que se insurgem contra os paradigmas de sucesso. Umas vêm dos quadrantes que suspeitam de tudo o que seja uma demonstração das portas do sucesso abertas pelo capitalismo. Outros arautos da desgraça são os guardiães da saúde pública, sempre na linha da frente para denunciar os malefícios de substâncias nocivas para o organismo humano (mesmo que sejam eles os primeiros a fumar uma charuto king size, acompanhado por dois ou três copos de whisky, enquanto repousam as pantufas no sofá, à frente da televisão, num exercício físico exemplar…).
Apesar das más-línguas que não se cansam de apregoar os danos do Red Bull, milhões de pessoas consomem com prazer esta bebida energética. Sinal de que não somos obedientes cordeiros de um rebanho amanhado à vontade de educadores iluminados. Sinónimo de emancipação dos indivíduos que não se revêem nos alertas melodramáticos que os higienistas de serviço difundem a toda a hora. O Red Bull é um exemplo de libertação individual. Dando corpo ao lema que é a mensagem publicitária da bebida: Red Bull dá-te asas.
Em sentido literal, o slogan apela aos efeitos revitalizantes da bebida. A sua composição estimula a força física. O café tem efeitos semelhantes e goza do beneplácito geral. Faz lembrar a dualidade de critérios a que somos levados pela boa consciência social que teima em deitar a sua mão sobre cada indivíduo. O álcool é tolerado pelos hábitos sociais. Já os estupefacientes são alvo da censura social, criminalizados e perseguidos sem piedade. Por acaso álcool e drogas deparam-se com o mesmo risco – o risco da dependência, que pode arrastar vidas para uma existência lamacenta.
Os deliciosos spots publicitários da Red Bull são mais um exemplo do sucesso da bebida. São cartoons que convocam a compreensão da audiência para os efeitos quase sobrenaturais do Red Bull. Em todos os desenhos animados – a sequência já vai longa – os olhos regalam-se com a campanha imaginativa que dá corpo à mensagem. Desde a vítima de uma qualquer máfia que se consegue soltar do caixão de cimento que trazia acorrentado aos pés, e voa alegremente do fundo do rio onde tinha sido sepultado; ao tenor que, excitado pelo Red Bull que bebeu, se deixa enlevar pelo canto e levanta voo; até a uma largada de touros em Pamplona, em que o hábito se inverte quando os intrépidos homens que desfiam a manada ingerem Red Bull e, de perseguidos, passam a perseguidores, perante os touros atónitos e horrorizados com a exibição de força sobre-humana.
Reza a história que o austríaco que descobriu a fórmula do Red Bull veio do nada para uma fortuna colossal. Não é a componente materialista que interessa. Apenas o engenho humano, a chave milagrosa que nos liberta do espartilho das mentes que se acham investidas na superioridade intelectual para condicionar comportamentos. Ou seja: de como o espírito inventivo, a capacidade de engenho, o dom de convencer outros a consumir o produto que se fabrica, é a chancela para a libertação do indivíduo.
É nestas alturas que me convenço que o capitalismo, e só o capitalismo, é o sistema económico que franqueia o bem-estar e a realização pessoal. O Red Bull é apenas um microcosmos que o demonstra. O slogan publicitário sintetiza-o da melhor forma: as asas para sermos livres de qualquer constrangimento.
(Em Brighton)
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