Os jornais costumam apresentar pessoas pelo nome e com indicação do que fazem na vida. É-se empresário, funcionário público, professor, arquitecto. É ingrediente obrigatório da forma como somos apresentados em público. Não basta saberem quem somos, através do nome; querem saber o que fazemos na vida. Por termos a mania das grandezas, tanto o respeito por quem ostenta um canudo; ou para tirar partido de um estatuto de superioridade intelectual, quando alguém é auscultado sobre assunto corrente e apresenta o canudo como cartão-de-visita onde se baseia tanta sabedoria incontestável.
As habilitações multiplicam-se, agora que têm prosperado licenciaturas obtusas, que a ciência se abastarda e surgem as mais impensáveis pós-graduações. A diversidade de ocupações profissionais é uma consequência. Surgem profissões bizarras – engenheiros do ambiente, técnicos de higiene e segurança no trabalho, cinesoterapeutas, gurus disto ou daquilo, consultores de imagem, free lancers de muita coisa. O zénite do insólito foi atingido ontem, quando uma famosa personagem do universo cor-de-rosa lisboeta era apresentada numa revista, seguindo os costumes, pelo nome e pela função: “Lili Caneças, socialite”.
Ainda não tive a oportunidade de consultar as tabelas das finanças que desfiam as imensas actividades profissionais com código numerado e tudo. Porventura lá há-de aparecer a função de socialite. A crer pelo zelo da revista, é sinal de que a função conquistou foros de emancipação no universo das artes profissionais. As feéricas figuras que desfilam pelas revistas cor-de-rosa podem adicionar ao cartão-de-visita: “socialite”. Para certos sectores, que avidamente consomem as revistas cor-de-rosa e que se ambientam ao colorido das festas sociais onde se passeiam vaidades fátuas, ser socialite ou é aspiração máxima ou sinal de genuflexão respeitosa. Lá na tribo onde todos pululam, ser socialite é atingir os píncaros da escala, colocar-se bem no topo da pirâmide.
Acho interessante que alguém, num órgão de comunicação social, caucione a qualificação. Pode sempre acontecer que o jornalista pertença à tribo, esteja habituado a frequentar círculos que consomem tempo a comentar as trocas e baldrocas do imaginado jet set, como se isso tivesse mais importância que, por amostra, a crise no Médio Oriente ou a tensão nuclear provocada pelas ameaças do Irão. Pode dar-se o caso do jornalista estar distraído. Ou também pode ter sucedido que a figurinha, desafiada a dizer o que faz na vida, tivesse respondido “socialite”. Confere-lhe respeito entre a numerosa seita que vagueia nos néons das festas onde só têm acesso personagens maiores do estrelato social.
Não tenho nada contra as pessoas que vivem de rendimentos (só uma salutar inveja…). Desconheço – e nem me interessa saber – se a autoproclamada socialite se encontra nestas condições. Suponhamos que não. E aceitemos a informação que nos é veiculada: a senhora exerce as funções de socialite. De onde vêm os rendimentos que provêm o seu sustento? Que, diga-se à margem, é um sustento de imodéstia, pois esta gente gosta de luxos e de saciar vícios acima das disponibilidades de uma certa burguesia já abastada. Por falta de conhecimentos do meio – e por assim me querer manter, por imperativos de sanidade mental – ignoro se a presença dos socialites em festas cheias de glamour é paga e a peso de ouro. Já ouvi dizer que sim. Que estas figuras abrilhantam eventos com a sua presença. Onde estão, é garantia da presença de fotógrafos ávidos em disparar a torto e a direito, com a certeza que haverá lugar avantajado em páginas das revistas da especialidade. Ora isto tem um preço, ao que consta elevado. Eis a remuneração dos socialites.
Ao início, quando punha os pensamentos em ordem sobre o assunto, o primeiro impulso foi associar socialites e parasitas. Estava errado. Eles são a antítese do parasitismo. São chamarizes da atenção alheia. Os parasitas são aqueles que os cortejam, sempre na ânsia de serem captados pela lente da máquina fotográfica, nem que seja num canto quase anónimo da enésima fotografia que mostra a socialite em causa. Mas é bizarro que alguém se faça passar por socialite. É sinal da mesquinhez inata, de que não nos conseguimos desprender, louvar o escol. O que é um dia mergulhado num pesadelo sem fim? Imaginar um acontecimento onde confluíssem socialites e a imensa corte, em alegre convívio com destacados membros da esquerda caviar. Uns e outros frequentam locais diferentes e não nutrem estima recíproca. Não sei explicar porquê, mas acho que estão bem uns para os outros, como se fossem mão e luva a preceito.
De repente vem à lembrança a resposta da tal socialite a uma pergunta qualquer. A senhora, que agora se pode rir a pulmões cheios que já não enruga a pele, dizia que estava cansada da ingratidão pátria e que ia exilar-se em Nova Iorque. Ao que eu acrescentava: e não se dê ao trabalho de regressar!
As habilitações multiplicam-se, agora que têm prosperado licenciaturas obtusas, que a ciência se abastarda e surgem as mais impensáveis pós-graduações. A diversidade de ocupações profissionais é uma consequência. Surgem profissões bizarras – engenheiros do ambiente, técnicos de higiene e segurança no trabalho, cinesoterapeutas, gurus disto ou daquilo, consultores de imagem, free lancers de muita coisa. O zénite do insólito foi atingido ontem, quando uma famosa personagem do universo cor-de-rosa lisboeta era apresentada numa revista, seguindo os costumes, pelo nome e pela função: “Lili Caneças, socialite”.
Ainda não tive a oportunidade de consultar as tabelas das finanças que desfiam as imensas actividades profissionais com código numerado e tudo. Porventura lá há-de aparecer a função de socialite. A crer pelo zelo da revista, é sinal de que a função conquistou foros de emancipação no universo das artes profissionais. As feéricas figuras que desfilam pelas revistas cor-de-rosa podem adicionar ao cartão-de-visita: “socialite”. Para certos sectores, que avidamente consomem as revistas cor-de-rosa e que se ambientam ao colorido das festas sociais onde se passeiam vaidades fátuas, ser socialite ou é aspiração máxima ou sinal de genuflexão respeitosa. Lá na tribo onde todos pululam, ser socialite é atingir os píncaros da escala, colocar-se bem no topo da pirâmide.
Acho interessante que alguém, num órgão de comunicação social, caucione a qualificação. Pode sempre acontecer que o jornalista pertença à tribo, esteja habituado a frequentar círculos que consomem tempo a comentar as trocas e baldrocas do imaginado jet set, como se isso tivesse mais importância que, por amostra, a crise no Médio Oriente ou a tensão nuclear provocada pelas ameaças do Irão. Pode dar-se o caso do jornalista estar distraído. Ou também pode ter sucedido que a figurinha, desafiada a dizer o que faz na vida, tivesse respondido “socialite”. Confere-lhe respeito entre a numerosa seita que vagueia nos néons das festas onde só têm acesso personagens maiores do estrelato social.
Não tenho nada contra as pessoas que vivem de rendimentos (só uma salutar inveja…). Desconheço – e nem me interessa saber – se a autoproclamada socialite se encontra nestas condições. Suponhamos que não. E aceitemos a informação que nos é veiculada: a senhora exerce as funções de socialite. De onde vêm os rendimentos que provêm o seu sustento? Que, diga-se à margem, é um sustento de imodéstia, pois esta gente gosta de luxos e de saciar vícios acima das disponibilidades de uma certa burguesia já abastada. Por falta de conhecimentos do meio – e por assim me querer manter, por imperativos de sanidade mental – ignoro se a presença dos socialites em festas cheias de glamour é paga e a peso de ouro. Já ouvi dizer que sim. Que estas figuras abrilhantam eventos com a sua presença. Onde estão, é garantia da presença de fotógrafos ávidos em disparar a torto e a direito, com a certeza que haverá lugar avantajado em páginas das revistas da especialidade. Ora isto tem um preço, ao que consta elevado. Eis a remuneração dos socialites.
Ao início, quando punha os pensamentos em ordem sobre o assunto, o primeiro impulso foi associar socialites e parasitas. Estava errado. Eles são a antítese do parasitismo. São chamarizes da atenção alheia. Os parasitas são aqueles que os cortejam, sempre na ânsia de serem captados pela lente da máquina fotográfica, nem que seja num canto quase anónimo da enésima fotografia que mostra a socialite em causa. Mas é bizarro que alguém se faça passar por socialite. É sinal da mesquinhez inata, de que não nos conseguimos desprender, louvar o escol. O que é um dia mergulhado num pesadelo sem fim? Imaginar um acontecimento onde confluíssem socialites e a imensa corte, em alegre convívio com destacados membros da esquerda caviar. Uns e outros frequentam locais diferentes e não nutrem estima recíproca. Não sei explicar porquê, mas acho que estão bem uns para os outros, como se fossem mão e luva a preceito.
De repente vem à lembrança a resposta da tal socialite a uma pergunta qualquer. A senhora, que agora se pode rir a pulmões cheios que já não enruga a pele, dizia que estava cansada da ingratidão pátria e que ia exilar-se em Nova Iorque. Ao que eu acrescentava: e não se dê ao trabalho de regressar!