São eles que instigam uma doentia cumplicidade entre negócios e política. Amesendam constantemente com políticos, incansáveis nas genuflexões que saciam o ego dos figurões. Perpetuam um sistema podre, o das decisões que trazem dinheiro a ganhar depois de amaciarem o pelo ao tráfico de influências que alimentam pelas veias da dependência estatal. Não têm o decoro de separar as fronteiras entre o privado e o público. São fautores, em compadrio com políticos sequiosos de poder por ostentar, de uma podre intimidade. A certa altura, já só o formalismo mantém a fronteira. A vidinha habitual encarregou-se de esbater as diferenças entre as duas esferas.
Uma casta dependente, tributária da tutela paternal das autoridades sempre farejadas. Não se conseguem emancipar dos políticos. Não homenageiam os antecessores que construíram a afirmação da esfera privada, quando então havia genuína, espontânea acção empreendedora, quando a livre iniciativa fazia todo o sentido. Hoje, apenas restam vestígios de livre iniciativa, sempre contaminada pelo concubinato com os políticos que selam, com a sua assinatura, as dádivas esperadas pelos empresários. Actores menores, manietados por uma letargia incompreensível, a letargia induzida pelo persistente estado de dependência tão do agrado dos políticos imponentes que adoram trazer o grande empresariado debaixo da asa.
Deles, a imagem de um oportunismo que se confunde com parasitismo. Só têm pernas quando se socorrem da milagrosa muleta do Estado. Nem percebem como se prestam a uma insólita, indirecta nacionalização. São a vergonha dos antepassados que souberam construir a pulso, e sem ajudas públicas, rendosos negócios. Agora, o que compensa é traficar influências para conquistar os favores de quem tem o cutelo da decisão entre as mãos. A suspeita de negócios obscuros não lhes retira o sono. Consta que é a única forma de sobrevivência. Todos comem do mesmo prato, por que hão-de os mais rectos fugir da maré dominante se com isso vierem os dissabores, o emagrecimento do negócio pela perda dos favores dos figurões que mandam?
Falta quem tenha coragem de virar a mesa do avesso, dar um murro na mesa e limpar a fétida, densa poeira que se acumulou. Faltam visionários que tragam a iniciativa privada de regresso ao seu lugar, ao lugar de onde nunca devia ter saído não tivesse um dia frutificado a perversa cumplicidade entre negócios e política. Entretanto, esses capitalistas deitam-se na lama que alimentam. E isso importuna-os? Não. Enquanto tiverem assegurado o seu quinhão nos proventos caucionados pela divina decisão dos governantes, toda a ética é letra morta, um arcaísmo. Enquanto os protestos e a figadal inimizade vierem dos detractores habituais, dos que se saciam no altar do marxismo e derivantes, o clamor que os vitupera não faz cócegas nos ouvidos. Enquanto do outro lado da barricada persistir um silêncio cúmplice, estes capitalistas continuarão de cedência em cedência até acordarem cercados por uma espessa teia de aranha salivada por uma seita de políticos que não tardará a abocanhá-los.
É diante destes pobres espécimes que ilustram o capitalismo que percebo a necessidade dos comunismos. São eles que dão alento aos comunistas, e isso não lhes perdoo. De cada vez que leio histórias dos inconfessáveis interesses que unem em comandita grandes empresários e figurões da política, mais entendo a alergia inata de comunistas e afins pela espécie do capitalista indígena, do indigno capitalista. Do capitalista que capitula diante dos que mandam na política e faz disso modo de vida. E depois há quem tresleia o filme que passa diante dos olhos e acuse os governantes de se ajoelharem diante dos empresários. Parece-me que estão a ver o filme às avessas.
O mal é que a roda dentada parece imparável. Um ciclo vicioso, que afunda a perversão de capitalistas enamorados pelo Estado. Nos intervalos do realista oportunismo desta gente, não haverá tempo para uma incursão, por breve que seja, em literatura que refresque os fundamentos do que são e do sistema que representam?
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