27.4.10

A biologia conta? (Opúsculo para irritar feministas)


In http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/2/2a/Igualtat_de_sexes.svg/180px-Igualtat_de_sexes.svg.png
Andava para aqui a ler umas coisas sobre cidadania quando esbarrei num capítulo sobre igualdade de género. Havia uma interrogação como ponto de partida: a cidadania moderna, sem preconceituosas desigualdades, tolera as desigualdades entre homens e mulheres que persistem para além do que já foi destruído pelas leis?
O resto do capítulo desfiava um relambório de autoras (invariavelmente no feminino) protestando contra a teimosa desigualdade que vitima as mulheres. Por mais que as leis queiram esbater as desigualdades, elas persistem – protestam as feministas. E já que se apregoa a igualdade à força, por decreto, lá para o fim do capítulo havia o contraditório. Os oponentes do feminismo não estavam ali na vez de zeladores da ancestral desigualdade de sexos. Tratavam de esboçar argumentos que desfaziam a febre feminista. Um argumento ficou na retina: podemos passar por cima da natureza? Como podemos forçar a igualdade se somos biologicamente desiguais?
Temos cromossomas diferentes. Nascemos com sexos diferentes. Mas não aceito desigualdades obtusas que são as sobras dos antepassados que se vangloriavam de “coisificar” a mulher. Eu não tenho culpa do que foi grotesco antes de mim. Nem estou para aqui de joelhos a suplicar a indulgência das feministas. As coisas são o que são. E, apesar não saber quem me irrita mais – se um marialva dos sete costados ou uma feminista de pelo eriçado –, não me tira o sono se o que vem a seguir merecer o labéu das feministas de serviço.
Lá vai disto: lia aquelas páginas onde se esgrimiam os argumentos tão politicamente correctos da seita feminista e os pálidos contra-argumentos que, ó heresia, nem deviam ser admitidos à estampa. Aquilo da biologia que diferencia os sexos entrava-me pelos olhos. Não há volta a dar: os cromossomas são mesmo diferentes; os sexos são diferentes (ou deixava de fazer sentido a palavra “heterossexual”); os homens, lamentavelmente, têm mais força física, logo, força bruta – e daí o lamento, pois os atropelos do passado em muito se deviam à supremacia física que os varões logo generalizavam num sinal de supremacia masculina generalizada. O que dirão as feministas acerca das competições desportivas que atribuem medalhas diferentes a homens e mulheres?
Ponto da situação antes de avançar: deploro os marialvas que ainda acreditam que são o “sexo forte”. Essa é uma competição absurda, sou-lhe indiferente. Que não me imponham a abjecção da “discriminação positiva”, senão passo para o lado das vítimas das desigualdades – e não quero. Mas não consigo deixar de ver as mulheres na sua diferença. Ao menos para me manter heterossexual (e não, não há aqui laivo de marialvismo).
Foi a natureza que tornou pródigas as fontes de diferença entre os homens e as mulheres. Os órgãos sexuais não são a expressão acabada desta diferença? Não os usamos? O falo, dominante, martelo pneumático que se incendeia de prazer, percutindo a vagina que se oferece numa passividade que o não é, mas passividade perante o frenético activismo fálico. É o sexo (no sentido de actividade) que perdura as desigualdades. E não me venham as mais inventivas com o livro do Kamasutra a provar que tudo depende das posições, que aquele binómio passividade/actividade pode ser virado às avessas. Uma gruta não é um ferrolho.
Havia um ponto de partida (as leituras que ando a fazer). Este é o ponto de chegada: o meu capital de sedução dissolvido em nada (como pode alguém distorcer assim o sexo?); e diagnósticos de indigência intelectual (quem faz a ponte entre o sexo e a biologia para defender as diferenças entre homens e mulheres é ignorante). É o preço a pagar quando se tem prazer em aborrecer as zelosas guardiãs do feminismo.

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