13.9.10

A educação sexual também é para os progenitores


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Hesitei um bocado antes de escrever sobre isto. É o risco de apanhar com o rótulo de conservador bafiento quando se cai em cima das vanguardistas modas da nova pedagogia. Nunca sabemos se estes vanguardistas apenas são inconsequentes experimentalistas, ou se arrepiam caminho a novas pedagogias que se hão-de enquistar com naturalidade. Ora, se for isto a acontecer, os que ao tempo do lançamento da revolução pedagógica se atirarem a ela não só vão ser desmentidos pelo futuro como não se livram da trela do conservadorismo. Alguns não se importam de carregar a trela. Como não é dor que me apeteça, ficam entendidas as hesitações.
Eis o contexto: ontem, no Público, notícia sobre as aulas de educação sexual que são obrigatórias a partir de hoje. Quero dizer que sou contra, mas por razões diferentes das que motivam a alergia de movimentos carregadinhos de conservadorismo de sacristia. Se estes deploram a sexualidade – ó coisa pecaminosa! – como podem tolerar que o ensino de assuntos relacionados com a sexualidade venha para os bancos da escola? Eu (acho que) tenho uma mente mais arejada. A diferença é que considero que tais assuntos devem pertencer à coutada educativa de cada família. Podem-me dizer que há famílias que não estão preparadas para educar a prole neste assunto. Em alguns casos, os tabus da ancestral educação católica são o travão para conversas descomplexadas entre pais e filhos. O que, na peregrina visão dos fazedores da sociedade sem peias, é motivo para trazer o tema para os currículos escolares.
Só depois é que vinha a fatia deliciosa da notícia: nalgumas escolas, talvez mais propensas ao experimentalismo, os progenitores são convidados ao envolvimento nas aulas de educação sexual. Posso escorregar para um inadvertido conservadorismo, mas esta insólita comunhão pedagógica é uma orgia potencial. Já sei que, a páginas tantas, me dirão que semelhante ilação só pode ser esboçada por alguém com uma mente pervertida. Que se eu lesse a notícia até ao fim, se soubesse do que tratam as aulas de educação sexual, não tirava conclusões precipitadas. Conclusões ainda por cima infectadas pela dissolução que parece ter colonizado a mente.
O experimentalismo é comovente. No fundo, o que devia ficar reservado à intimidade das relações filiais é socializado através das escolas. E não foi para isso que as escolas foram pensadas? – perguntarão os engenheiros sociais, os que acham que a escola enxerta os alicerces do “pensamento como deve ser” nos petizes.
Para não retirar razão aos que diriam que tenho uma dissoluta mente, lá vai disto: vai ser uma bela experiência, os progenitores entretidos em teatralizações que ilustram o assunto (foi narrado na notícia), talvez como prelúdio para outras experiências extraconjugais no rescaldo das actividades escolares. Ou de como as aulas de educação sexual podem espicaçar o swinging. Até pode acontecer que alguns progenitores, por assim dizer mais atadinhos no assunto, aprendam algo da poda ao participarem nas actividades. Vai ser uma magnífica comunhão intergeracional e a falência do promissor negócio dos consultores matrimoniais.
Falta saber qual foi o critério de recrutamento dos professores da disciplina. Eu cá tenho a impressão que o critério de desempate é a desinibição, porventura uma certa lascívia a transpirar dos poros, pessoas desempoeiradas, que empurraram há muito, e para bem longe, os preconceitos castradores. Senão, estas comunhões intergeracionais de experimentalismo pedagógico serão um fracasso.

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