In http://www.realbollywood.com/news/up_images/sofia-vergara4012.jpg
(Aviso: texto eventualmente chocante para feministas e católicos bem formados)
Mandam as convenções (e os dogmas da educação habitual): as senhoras que atingem certos fins dando o corpo como penhor são olhadas de soslaio, atiçadas com o labéu da profissão mais antiga do mundo. Desprezadas pela ofensa aos cânones da moralidade acertada. Talvez isto seja o produto das sobras da moralidade cristã. Ou do sexo mal parido e das tormentas interiores que assaltam muitos zeladores dessa moralidade, que às vezes, para surpresa de alguns, acabam apanhados na armadilha que tanto desaprovam.
Ontem esbarrei numa desassombrada confissão de uma actriz. A menina chama-se Sofia Vergara e confessou que os seus seios avantajados lhe proporcionaram uma vantagem comparativa na progressão da carreira. Só não disse como, mas os que de nós temos uma mente que a espaços descamba para a perversão imaginamos como. Não se tirem daqui conclusões precipitadas, todavia. As palavras anteriores não contêm o qualquer laivo de censura. Ou a sugestão de que nessas palavras está implícita a ideia de que a actriz é uma pouco aconselhável rameira.
Primeiro: enoja-me esta pressão social que colectivizou a moralidade. Daí à profusão de sacerdotes que ajuízam as acções dos outros, debitando sentenças acerca da sua conformidade com os padrões de que eles se julgam vigilantes, é um breve passo. A ética devia ser um domínio reservado ao íntimo de cada um. À consciência individual. A cada tentativa de intrusão dos outros como julgadores da moralidade das acções de alguém devia corresponder uma veemente reprovação, o isolamento dos que se julgam colocados numa posição superior para julgar as acções dos outros.
Segundo: o pragmatismo da contemporaneidade é o palco de onde se devem fazer as observações. Acho pouco coerente que tanta gente aceite o utilitarismo como modo de vida, aquela forma muito “José Mourinho” de apenas olhar para os fins sem dar grande importância aos meios usados, e depois se atirem furiosamente a alguém que ponha em prática esse modo de vida usando o lindo corpinho que a natureza lhe proporcionou.
Porventura serão as concorrentes de tais meninas com prodigalidade corporal que mais depressa censuram quem usa o corpo para chegar mais longe. Compreende-se. São penalizadas por uma desvantagem comparativa, não conseguem despertar a cobiça junto da homenzarrada que se deixa cegar pela excitação das hormonas ferventes. Ficam para trás, vítimas de uma profunda injustiça. Protestam contra outra propriedade do mundo de hoje: não é pelo mérito que se consegue vingar, são outros os atributos que contam. É o mundo como ele é.
É fácil tirar a pinta dos que reprovam esta maneira de subir na carreira. Ou são as concorrentes que não foram agraciadas pela natureza, mortificadas pela timidez curvilínea. Ou são as senhoras que alguma vez foram vítimas destas beldades, vítimas através do colapso da infidelidade. Ou trata-se de homenzarrada que destila outra espécie de inveja – a daqueles que nunca estiveram em posição de terem em bandeja uma lasciva mulher em oferenda dos deuses. Ou, por fim, são os habituais penhores da moralidade alheia. Mas, neste caso, importa dar o devido desconto pela razões já explicadas.
O corpo é propriedade privada. O que fazemos com ele apenas diz respeito a cada um de nós. E à respectiva consciência que é, se ainda não demos conta, um domínio que pertence à individualidade. Era o que mais faltava, colectivizar a consciência individual. Nem os marxistas foram tão longe. E se há donzelas que escolhem a “promiscuidade” (assim mesmo, entre aspas), é porque se trata de um negócio – como chamam os juristas – sinalagmático. Como se pode censurar tamanha generosidade?
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