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Quem inventou a parábola foram os jovens socialistas da Catalunha em véspera de eleições regionais. Só faltava mais esta: quererem convencer o eleitor a – usando a linguagem politicamente correcta – não se demitir das suas obrigações cívicas, usando uma comparação que se mete com a intimidade de cada cidadão. É destes tempos, e sobretudo da canga socialista que acredita piamente que a engenharia social consegue melhorar a espécie humana, qualquer pretexto serve para as intromissões no que devia ser reservado à individualidade. Os jovenzinhos socialistas da Catalunha deviam pensar em mudar de ocupação: serem publicitários talvez seja o seu fado.
Todavia, esta verve tropeça em imponderáveis. A começar, como se pede a todo o clero (padres e freiras metidos no mesmo saco) que tratem o voto como se fosse um orgasmo se o clero continua obrigado a um voto de castidade? Os padres e as freiras sabem o que é um orgasmo? E, se sabem porque já o experimentaram (não importa como), são seus frequentadores regulares? Há padres que têm intervenção política. Serão os que, às escondidas da bíblia, têm vida sexual mais intensa?
Por outro lado, este apelo que traz de mão dada o voto e o orgasmo contém algo de onanista. O voto é um acto de privacidade. O orgasmo, quando ultrapassa a individualidade do ser e convoca alguma pluralidade (pelo menos dois) desmente a criativa campanha dos jovens socialistas catalães. Como se pode meter a imagem de um orgasmo no meio do voto se nem sequer nos deixam ir acompanhados para o reservado local onde fazemos a escolha eleitoral? A menos que os jovens socialistas estejam mancomunados com a igreja, que detesta o sexo e, mal por mal, prefere aconselhar o prazer num acto de satisfação individual. Que, afinal, é o retrato da privacidade da mesa de voto. Talvez o clero saiba do que falam os jovenzinhos socialistas.
Os terapeutas sexuais deviam ser chamados às mesas de voto. É que tratar o voto como um orgasmo é arriscado. Primeiro, para os que distorcem a natureza do voto e o acham um dever antes de ser um direito, eis o dilema existencial: e o orgasmo, também é um dever? Tal como o voto, eu pensava que era um direito. Posso estar errado e – quem sabe? – a última invenção da engenharia social dominante é legislar que o orgasmo é um dever. Segundo, há as disfunções sexuais (orgasmos precoces, frigidez) que, se forem trazidas para a mesa de voto e se forem todas somadas no resultado das eleições, possivelmente explicam certos resultados aberrantes. Aqueles que depositam o voto num ápice reflectiram na escolha? E os que ficam hesitantes à frente do boletim de voto, incapazes de escolherem entre os candidatos, quando por fim se decidem fazem-no com lucidez? E aqueles episódios fugazes, com algum álcool pelo meio, que não ajudam à memória dos dias seguintes; há quem vote assim, na lógica do primeiro peixe que vem à rede?
Eu ia dizer que esta metáfora inventada pelas mentes criativas dos jovenzinhos catalães é atroz. Pensando bem, não é. Para quem for abstencionista militante, não é. Aliás, reforça a militância. Como podemos ir a uma mesa de voto, colocar a cruzinha num partido ou num candidato e imaginar, com toda a força possível, que essa escolha se compara aos melhores orgasmos que alguma vez tivemos? Isto é perigosamente debochado. E os candidatos seriam uns e umas grandessíssimos meretrizes.
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