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Os magnatas eram espécie em extinção. O que não
deixava de ser irónico: os revolucionários juravam que a miséria estava a
acabar. Mas não podiam contar com a generosidade dos outros países. Eles
teimavam no anacrónico capitalismo. Pária, esta era uma terra não recomendada
pelos tiranos do sistema internacional. Para piorar, muitos magnatas evadiram-se
a tempo para o exílio. Deixaram alguns pertences que foram expropriados. Mas
ainda expatriaram muita abastança que fugiu ao erário público que tanto lhe
queria meter o dente. Os que não fugiram tinham sepultura encomendada. Deixavam
de alimentar o fisco. E os poucos sobrantes, os que andavam a monte, também
deixaram de contar para o fisco.
Os revolucionários não estavam à espera desta
ratoeira. Lá fora ninguém confiava neles. Não tinham crédito. Interrogavam-se,
em demorados conciliábulos, como podiam desfazer esta equação. Sentiam o rumor
insatisfeito do povo. E renovavam as juras: tudo se amanharia, ao encontro de uma
solução a preceito. Era paradoxal o que pediam, cada vez mais com ar
complacente, ao bom povo: era como se o povo fosse convidado a depositar a fé
nos promitentes de um amanhã radioso. Fé por fé, algum do povo preferia a boa
nova espalhada pelos sacerdotes de sotaina.
Na selva, o magnata fugidio gangrenava de um pé.
Cortara-se num arbusto pontiagudo. Os leais guarda-costas já o carregavam no
dorso. A ferida infecta trouxera uma febre imensa. À noite, delirava. Uma vez
saltou para o pescoço de um guarda-costas e balbuciou insanidades. Entre os
sons guturais só se percebeu: “que vos
mato, comunistas de um raio, que vos mato por quererem matar este país!”
Três dias depois de febres maiores, exangue e
desidratado, num dos raros momentos de lucidez, o magnata pediu a um dos leais
companheiros que se aproximasse. Sussurrou-lhe: “crava o teu punhal. Bem fundo. Acaba com este sofrimento.” O homem
ficou lívido. O magnata desceu do pedestal e, pela primeira vez, cobriu-se de
humildade, suplicando: “tu sabes que não
tenho salvação. Prefiro morrer aqui na selva do que morrer às mãos desses
traidores”.
Foi uma morte chorada pelos revolucionários no
poder; lágrimas hipócritas. Menos um a engrossar o erário público.
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