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Irreprimíveis, ou não – uma alcateia
de uivos que se transformam em lágrimas fáceis. Uma centelha de alvoroços que chegam
à superfície, vêm das catacumbas onde estiveram reprimidos. Ou são a
sensibilidade que grita nos pavilhões auriculares que sobressaltam o
pensamento. Lágrimas. Aquelas que se não contêm desaguam na pele frágil, banham
os sentidos com um eflúvio de luzes baças. Os costumes mandam entender as
lágrimas como sinal de aflição, a decomposição exterior das inquietações que
adestram insónias. As lágrimas, um veneno que adultera a compostura. Diz-se de
quem chora que anda de mal com a alegria, numa parelha com a melancolia
irredutível.
Mas as lágrimas têm cores, diferentes
cores, que vagueiam nas epístolas lacradas com o seu sal. Andam mal os que se
amedrontam diante de uma lágrima que não conseguem estear. Umas vezes, derrotados
pelas emoções que gravitam imparáveis e tomam conta por dentro dos instintos
que se vertem em lágrimas purificadoras. Outras vezes, um epílogo feliz, um
crescendo que termina num promontório de emoções que agitam tudo por dentro. Uma
lágrima e outra derramadas e as forças interiores não as podem travar. Não é fraqueza.
As lágrimas derramam-se num cálice dourado, as suas gotas são pétalas
ornamentadas a ouro. Enchem de estatura o palco onde desfilam os que se não
atemorizam por que haja quem os veja a trajar uma lágrima furtiva.
Descansem os espíritos fugidios, os
ascetas da ventura, os que pastoreiam pacientemente as flores incolores, os
vultos da solidão que erram sem sentido, os trovadores desencantados, as
donzelas desossadas de amores, os artistas arredios de inspiração, os profetas
sem seguidores, as varinas sem freguesia, os narcísicos sem aduladores, as
crianças sem um sol que as faça sorrir, ou os poetas que não encontram uma
diva, por entre as sereias do mar, e ficam lívidos perante a folha que teima em
ser branca.
Descansem, que as lágrimas
melancólicas que vertem hão de ser compensadas por outras que selam as alegrias
demoradamente cobiçadas.
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