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Outra vez a nostalgia. Assaltado pela
penumbra da memória, que nem à força de tanto querer impedia a sua
evanescência, acertava contas com o tempo de agora com a sede do passado.
Virou-se para a amiga e disse-lhe “just
like the old days”, com o ar compungido de quem sabe que os dias exortados não
regressam. Ela não tomava conta da deambulação pelo tempo provecto. Estava atarefada
com a alucinação quotidiana. Eram dores, e muitas, as abençoadas pelo tempo
vivido. Podia lá perder-se em retrospetivas estéreis se o tempo presente exigia
tanto e o tempo perece na sua escassez. Mas ele insistia. Gravitava no alpendre
das recordações, desfilava as que mais convinham para aplacar a demissão do
tempo atual. Incomodada, inquiriu:
- Por
que insistes em vir do passado com essas memórias? Têm alguma serventia para
estes dias que são os nossos?
-
Não se apagam, as memórias – contrapôs. E se com elas aprendemos o ritmo do tempo
atual, podemos iluminar a retrospetiva quando nos apetecer.
Ela não escondeu o enfado. Era
senhora das suas certezas e gabava-se de ter os pés firmes no chão, gostava de
proclamar o pragmatismo como sua maior virtude. Ele não ficou sem resposta:
- Acho
que estás a cerzir uma patranha para ti mesmo. De cada vez que mergulhas na
nostalgia, é como se estivesses a negar o que és agora. A nostalgia é o cárcere
que te impede de possuir o tempo que vives.
Acusando a censura, ele não quis dar
o flanco. Levou os argumentos para o púlpito das suas ideias e ofereceu réplica
àquelas palavras que soavam a reprovação de comportamento:
- Não
é nada disso. Estás a entender tudo ao contrário. Se quero viajar até ao
passado, é porque tenho orgulho desse passado. Não leves a mal se quero
partilhar contigo algumas recordações que trago em mim com prazer. “For the
sake of the old days”.
A inquietação causava um rubor
indisfarçável na amiga, que terminou a conversa com palavras secas:
- Os
dias antigos são isso mesmo. Uma antiguidade. Não se repetem. Trazê-los do
sepulcro onde repousam é uma ofensa ao tempo que há agora em ti.
Três crianças em reboliço
estacionaram à sua frente. Distraíram-se com a alegria espontânea das crianças.
A conversa ficou por ali.
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