In http://media.carbonated.tv/47294_story__panther2.jpg
Não sentia intensidade na existência
se o sobressalto se diluísse nas ameias da temperança. Era como se uma farta
espada adejasse, perene, sobre a cabeça, preparada para a decepar ao primeiro
passo em falso. Esbarrava numa existência exigente. Não eram tolerados passos
em falso. Ao contrário do trapezista no circo, não repousava os erros numa rede
de segurança.
Experimentara-a, a rede de segurança,
ao cabo de uns dissabores custosos e de umas feridas em combate (no combate
travado contra a monotonia). Experimentara-a a conselho amigo, que o pretérito
fora lugar onde desdenhara a prostração das ações, e as feridas em combate e os
dissabores custosos não faziam fartura de sua repetição. Mas a existência era
uma canseira quando tropeçava no previsível. Era enfadonha quando os pés
percorriam avenidas largas traçadas em mapas conhecidos, ou quando os sabores
se repetiam, ou a rotina vinha de mansinho, domando a rebeldia que
geneticamente é indomável.
Depressa fugiu das promessas.
Depressa esquecera a dor perpetuada nas cicatrizes como fatura de sobressaltos
anteriores lacrados em sirenes de ambulâncias trinando estridentemente. À
primeira oportunidade, escorregava para o risco que era o abismo. Se a paisagem
diante dos olhos era magnânima e frondosa, desviava o olhar para os antípodas.
A demanda era pela inquietação. Parecia uma droga, tamanho o vício pela
pulsação acelerada, a respiração abeirando-se da apoplexia, a adrenalina
contagiante que montava numa espiral imparável.
Uma amiga dissera-lhe que ele tinha
uma incompreensível apetência pela boca do lobo. Discordou. Ufano com a loucura
que o consumia, contrapôs como os ingleses o fazem: “in the lion’s cage.” Era indomesticável a vontade de se meter
dentro da jaula em que vivia, aprisionado e enfurecido, o leão cativo. E
repetia, estavanado, “in the lion’s cage”,
com o orgulho demencial de quem parecia não temer a morte.
Talvez acreditasse nas sete vidas
que, dizem os antigos, premeiam os gatos.
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