In https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh85YDkOcc3-jXg0ZtnX6xExohWb3dAemgHBO0P8nRX4D6JZbsk5CeZxbHF9eeksvRPQhLAuX3_RMGcH7Cd9W2P2rbB3NUoa1JKoR5a3ozKbZ2ZVuFw-x5dwDQ5w0EZ9ZcD7_2GDg/s1600/muro.jpg
Jurou que tentara todos os esforços. As
metas, que na altura não curava de saber se eram ambições sem alcance, não eram
desembaraçadas. Das vezes que tentara havia um muro por diante, as paredes tão
altas que não era dada permissão para o ultrapassar. Não o era à força braçal: os
muros que entreolhavam quando o horizonte despontava o epílogo da proeza eram
paredes imensas, pedras carcomidas pela corrosão das chuvas, o musgo brotando
dos interstícios das pedras para emprestar humidade ao muro. Se havia muros não
exageradamente altos, que pareciam tarefa menos árdua, o musgo que neles
medrava era cancela irremovível. As mãos escorregavam, os olhos metendo-se na
penumbra do cansaço de cada vez que a teimosia julgava derrotar a armadilha
invencível.
Quando recuava na intenção,
convencia-se que o muro era uma atilada barreira. Se aparecia por diante,
tolhendo as metas que naquela altura ganhavam espessura de ganância, o muro
tinha as suas razões. Convencia-se, talvez para amenizar o travo azedo do
revés, que o muro impedia uma possível catástrofe. Podia ser que do outro lado
do muro estivesse a vertigem de um abismo. Metia os mãos nos bolsos, amparando
o corpo arqueado pela canseira, orquestrando um sabor doce ao que era
estruturalmente azedo.
Nunca chegara a saber, das vezes em
que esbarrou em muros, o que estava do lado que o muro não deixava ver. Quando
partira com o rumo vicejado pelo desconhecido, só as incógnitas eram adquiridas.
Tratava-se de uma corrida no escuro, tateando as paredes para desarmadilhar os imprevistos
que fossem aparecendo. Nada era projetado: o corpo aventurava-se sem rumo
pensado. De permeio, uns laivos de luz clara deixavam o sol à mostra. Mas
depois havia sempre um muro. Um muro atilado – não fosse o destempero do desengano
consumir as forças sobrantes.
Quando vinha o dia do restolho, ainda
o corpo se condoía pelo muro invencível, a filigrana da alvorada curava os
desatinos da inconsequência. Era preciso um muro para admitir os passos em
falso, a lucidez que se ausentara quando mais era precisa. O muro, o atilado
muro, era onde encontrava a bússola que não sabia sumida.
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