25.2.13

O muro atilado


In https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh85YDkOcc3-jXg0ZtnX6xExohWb3dAemgHBO0P8nRX4D6JZbsk5CeZxbHF9eeksvRPQhLAuX3_RMGcH7Cd9W2P2rbB3NUoa1JKoR5a3ozKbZ2ZVuFw-x5dwDQ5w0EZ9ZcD7_2GDg/s1600/muro.jpg
Jurou que tentara todos os esforços. As metas, que na altura não curava de saber se eram ambições sem alcance, não eram desembaraçadas. Das vezes que tentara havia um muro por diante, as paredes tão altas que não era dada permissão para o ultrapassar. Não o era à força braçal: os muros que entreolhavam quando o horizonte despontava o epílogo da proeza eram paredes imensas, pedras carcomidas pela corrosão das chuvas, o musgo brotando dos interstícios das pedras para emprestar humidade ao muro. Se havia muros não exageradamente altos, que pareciam tarefa menos árdua, o musgo que neles medrava era cancela irremovível. As mãos escorregavam, os olhos metendo-se na penumbra do cansaço de cada vez que a teimosia julgava derrotar a armadilha invencível.
Quando recuava na intenção, convencia-se que o muro era uma atilada barreira. Se aparecia por diante, tolhendo as metas que naquela altura ganhavam espessura de ganância, o muro tinha as suas razões. Convencia-se, talvez para amenizar o travo azedo do revés, que o muro impedia uma possível catástrofe. Podia ser que do outro lado do muro estivesse a vertigem de um abismo. Metia os mãos nos bolsos, amparando o corpo arqueado pela canseira, orquestrando um sabor doce ao que era estruturalmente azedo. 
Nunca chegara a saber, das vezes em que esbarrou em muros, o que estava do lado que o muro não deixava ver. Quando partira com o rumo vicejado pelo desconhecido, só as incógnitas eram adquiridas. Tratava-se de uma corrida no escuro, tateando as paredes para desarmadilhar os imprevistos que fossem aparecendo. Nada era projetado: o corpo aventurava-se sem rumo pensado. De permeio, uns laivos de luz clara deixavam o sol à mostra. Mas depois havia sempre um muro. Um muro atilado – não fosse o destempero do desengano consumir as forças sobrantes.
Quando vinha o dia do restolho, ainda o corpo se condoía pelo muro invencível, a filigrana da alvorada curava os desatinos da inconsequência. Era preciso um muro para admitir os passos em falso, a lucidez que se ausentara quando mais era precisa. O muro, o atilado muro, era onde encontrava a bússola que não sabia sumida.

Sem comentários: