7.2.13

Das propriedades medicinais da pimenta


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Aos digníssimos tutores da moralidade em moda:
Quando prestardes o serviço público de zelar pela moral, e quando estiverdes de dente afiado contra os infames capitalistas (e seus abomináveis sequazes), não baixeis a guarda, sacai o vosso implacável juízo da culatra. Aprendei com os antepassados que amedrontavam as crianças com pimenta quando elas buliam com o bom comportamento. Rezam as crónicas de antanho que umas pitadas de pimenta na boca bem aberta dos petizes eram remédio bastante para não reincidirem na asneira. Ficavam tão azoados, que doravante engrossavam as fileiras dos meninos bem comportados.
Fazei o mesmo com os infames capitalistas e seus abomináveis sequazes. Atuai mais incisivamente contra os abomináveis sequazes, não tenhais receio que vos apostrofem como covardes que atacam os mais fracos e deixam os mais fortes imunes à vossa argúcia moralizadora; os sequazes, de tão abomináveis serem, merecem castigo que os varra da arena pública. Sem os seus propagandistas de eleição, os infames capitalistas ficarão desarmados. Desorientados por falta do alicerce que os ampara na imprensa e na arena pública, estareis em condições de assestar o golpe fatal aos grotescos detentores do capital que empurram a maralha pela ladeira do empobrecimento abaixo.
Não façais como os antepassados, que destinavam uns parcos gramas de pimenta à boca dos azamboados petizes. Tereis de ser mais ambiciosos, ó ocupantes dos regenerados confessionários de onde distribuem penitências aos infratores da moral que é vossa tutela: despejai quilos de pimenta em grão em torturas públicas, onde os capitalistas acusados sejam expostos à humilhação perante quem a quiser testemunhar. E enquanto eles ardem, como se a expiação dos pecados sociais requeresse o fogo dos infernos ateado pela artilharia de pimenta em grão, arejai-lhes as ideias com leques que abanem uma poeira de pimenta sobre os olhos e as vias respiratórias. De seguida, e enquanto o farsante castigado recupera do desmaio, um dos teólogos de serviço que suba ao púlpito para recitar os mandamentos da moralidade em moda.
Ato contínuo, depois de conduzir o farsante condenado ao cárcere lúgubre e húmido, façam desaparecer da ementa dos restaurantes iguarias condimentadas com pimenta. Que a pimenta seja vosso manancial de castigos, apenas.

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