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Aos digníssimos tutores da moralidade
em moda:
Quando prestardes o serviço público
de zelar pela moral, e quando estiverdes de dente afiado contra os infames
capitalistas (e seus abomináveis sequazes), não baixeis a guarda, sacai o vosso
implacável juízo da culatra. Aprendei com os antepassados que amedrontavam as
crianças com pimenta quando elas buliam com o bom comportamento. Rezam as
crónicas de antanho que umas pitadas de pimenta na boca bem aberta dos petizes
eram remédio bastante para não reincidirem na asneira. Ficavam tão azoados, que
doravante engrossavam as fileiras dos meninos bem comportados.
Fazei o mesmo com os infames
capitalistas e seus abomináveis sequazes. Atuai mais incisivamente contra os
abomináveis sequazes, não tenhais receio que vos apostrofem como covardes que
atacam os mais fracos e deixam os mais fortes imunes à vossa argúcia
moralizadora; os sequazes, de tão abomináveis serem, merecem castigo que os
varra da arena pública. Sem os seus propagandistas de eleição, os infames
capitalistas ficarão desarmados. Desorientados por falta do alicerce que os
ampara na imprensa e na arena pública, estareis em condições de assestar o golpe
fatal aos grotescos detentores do capital que empurram a maralha pela ladeira
do empobrecimento abaixo.
Não façais como os antepassados, que
destinavam uns parcos gramas de pimenta à boca dos azamboados petizes. Tereis
de ser mais ambiciosos, ó ocupantes dos regenerados confessionários de onde
distribuem penitências aos infratores da moral que é vossa tutela: despejai
quilos de pimenta em grão em torturas públicas, onde os capitalistas acusados
sejam expostos à humilhação perante quem a quiser testemunhar. E enquanto eles
ardem, como se a expiação dos pecados sociais requeresse o fogo dos infernos
ateado pela artilharia de pimenta em grão, arejai-lhes as ideias com leques que
abanem uma poeira de pimenta sobre os olhos e as vias respiratórias. De
seguida, e enquanto o farsante castigado recupera do desmaio, um dos teólogos de
serviço que suba ao púlpito para recitar os mandamentos da moralidade em moda.
Ato contínuo, depois de conduzir o
farsante condenado ao cárcere lúgubre e húmido, façam desaparecer da ementa dos
restaurantes iguarias condimentadas com pimenta. Que a pimenta seja vosso
manancial de castigos, apenas.
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