In http://estauo.files.wordpress.com/2011/03/microfone.jpg
A carniça esturricava no assador. A tia
obesa não parava de debicar azeitonas curadas. Havia um papagaio com
verborreia, como dizem que todos os papagaios o são. Os rapazes em calções
enlameavam o chão da sala depois de saírem da piscina. O tio fleumático não
perdia a pose imperturbável enquanto lia o pasquim à sombra de um jacarandá.
Os canapés passavam de prato em prato
conduzidos por mordomos vestidos a preceito, o braço esquerdo dobrado atrás das
costas. No palco, um grupo musical procurava abrilhantar a festa, apesar do
amadorismo. Os convivas não se entusiasmavam com o desempenho. Ao fim de meia
hora, o grupo musical conseguiu desembainhar o pé de dança a meia dúzia de
convivas. A tia solteirona dera uns tabefes a três ganapos com a adolescência a
espevitar as hormonas – os ganapos tinham metido as mãos nas suas carnes
voluptuosas e provocantes (assim como assim, já o olhar do senhor padre
escorregava para os peitos amassados dentro do soutien).
O taxista com boné característico
adentrou no recinto e perguntou, com voz estridente, quem tinha encomendado
corrida para o aeroporto. Ninguém se acusou. O taxista virou costas e deixou
uns impropérios na sua peugada. Os três ganapos sorriam malandramente: foram os autores do telefonema a pedir um táxi com
urgência, porque o senhor Tito (personagem fictícia) precisava de se ausentar
para apanhar um avião. Um casal de velhinhos rivalizava na rabugice, à compita para
saber quem se tratava pior, gritos audíveis na exata proporção do Sonotone emparelhado
com os seus ouvidos esquerdos. Os varões estacionaram diante da televisão onde
passava disputa de futebol em Espanha. As consortes e caras metade, entretidas
na tagarelice superficial e no concurso de ideias fermentado pela ávida leitura
das revistas da coscuvilhice, deitavam olho onírico ao rapaz que desfilava nas
passerelles da moda (mas que não dava atenção às senhoras).
O taxista regressou à praça desfiando
rosário de impropérios – a viagem em vão retirara-o do convívio com as varinas
do mercado mesmo ao lado da praça de táxis (andava com uma das varinas debaixo
de olho). O narrador de tudo isto, cansado de tanta frivolidade, emalou o posto
de observação para outra história mais frutuosa.
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