25.9.13

A grande árvore mastro


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(Por dentro do espelho – ou como se o espelho estivesse virado do avesso)
Inventaram-te papeis. Difíceis de suportar, esses papeis, pela imensa responsabilidade em tuas mãos. Diziam-te esteio. Ou um cais, onde outros haveriam de aportar sempre que houvesse carestia de lucidez. Invocavas o céu azul como metáfora de liberdade, da tua liberdade que não querias esportulada por tamanha empreitada.
Invocavas, em última instância, um egoísmo que dizias, por tua desdita, atroz. Não te criam. Julgavam que era falsa modéstia, que não querias que repousasse em teus ombros empreitada tão vultuosa só porque não aceitavas que em ti farejassem um farol. Diziam que farol não eras, que o nevoeiro embacia os faróis que há, e os tantos que se entregam à noturna desorientação podiam naufragar. Diziam-te árvore, majestosa árvore como as há aquelas seculares que enraízam tronco de largo diâmetro. A condizer, terra de uma fertilidade singular. Mas tu não querias ser sitiado pela bonomia que te entregavam naquilo que julgavas presente envenenado. Tentavas convencê-los que não há bem maior que a autonomia individual. A deles. E a tua.
Congeminaste discursos elaborados sobre estéreis heróis. Se calhar, o mal foi o discurso elaborado: poucos o entenderam. A cada tentativa de escapares ao desiderato que te encomendaram, endeusavam-te mais. Pueris, agradeciam a tua modéstia. Não lhes era dado a entender que não era modéstia; que não querias ser açambarcado pelas suas importunações que tuas não eram, pois as tuas já bastavam. Teimavam na mesma toleima: que eras árvore, e árvore de especiais pergaminhos. A árvore mastro onde se podiam agarrar para se resguardarem de tempestades. A árvore que era mastro onde se aquartelavam, colonizando ramificações como escudo protetor.
Incapaz de dobrar a vontade da gente, cada vez mais numerosa, em demanda de teu cais centrípeto, tomaste resolução drástica: meteste-te em polémica demonstração de privados vícios. A moralidade que campeava trataria do resto. O julgamento público foi cerce. Foi como se uma brigada de lenhadores tivesse seccionado o grosso caudal que se enraizava fundo na terra. Que deixara de ser fértil, agora terra bastarda. E tu, por fim, árvore derrubada. O sossego, que sempre fora a centelha dos sonhos, enfim devolvido.

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