In http://diariodigital.sapo.pt/images_content/2013/miley-robinticke.jpg
(Não é a silly season contagiada ao pós-férias, pois se até o esteticamente
insuspeito Nick Cave fala de Hanna Montana numa das suas músicas...)
A rapariga cresceu. Deixou de ser o
ícone adolescente dos adolescentes. Que raio, tem o direito de crescer! E se
nesse processo de crescimento, ao continuar artista com os olhos do mundo
deitados sobre ela, se transfigurar numa lúbrica adolescente, quem a pode
censurar?
Os habituais mercadores da
moralidade, tão apressados a fazer julgamentos éticos dos outros (mas que são beijos
envenenados a si mesmos), fizeram os também habituais pronunciamentos. A
rapariga terá passado das marcas. As boas mentes aquietam-se: onde dantes havia
um modelo de virtudes que os adolescentes seguiam, com aquele ar cândido
aspergindo uma beatitude seráfica, há agora um corpo endemoninhado que insinua
sexo, ou pornografia para os mais indignados. O que talvez não ocorra aos
patriarcas e às matriarcas da moralidade é que também eles e elas tiveram a sua
tenra juventude que foi algures adulterada pelos prazeres carnais.
As pessoas crescem. Os adolescentes
também. E se a liberdade ainda for um direito, quem pode subir a um pedestal
para lavrar sentenças sobre comportamentos que não são seus? Se calhar, esses arautos
da pureza nunca viram pornografia, nem sequer tiveram desejos que escorregam
para a carnalidade. Que a consciência seja o único confessor destes – como
dizer, em linguagem que seja entendida pelos patriarcas e matriarcas da
moralidade? – pecadilhos, é matéria que não diz respeito a mais ninguém.
Justamente. A mais ninguém. Houvesse capacidade para não aplicar aos outros o
que não admitem que seja seu libelo acusatório, a transfiguração artística da Hanna
Montana nem sequer um rodapé nas notícias dava.
A menina desabrochou e, a julgar pela
pose provocadora, terá gostado de experimentar a volúpia. Os julgadores dos
comportamentos dos outros deviam estar calados, pois a volúpia alheia não lhes
diz respeito. Se lhes fosse dado a alcançar um naco de lucidez, talvez
percebessem que a pose provocadora, sugestiva nas insinuações carnais, pode não
passar disso mesmo: pose e nada mais que pose, só para cativar atenções e
vender discos.
(Nunca julguei defender a Hanna
Montana. A adversidade estética continua, todavia. E se até Nick Cave escreveu
uma música que fala de Hanna Montana...)
Sem comentários:
Enviar um comentário