In http://images.teinteresa.es/tierra/Tungurahua-expulsando-incandescente-Huambalo-Ecuador_TINIMA20120822_0068_3.jpg
As velas que ardem com o sopro dos
véus caídos simulam os archotes que avivam as veias. As veias que outrora
pernoitaram na indolência, como se as alvoradas fossem esteios das noites que
prometiam novas alvoradas sem que no permeio algo acontecesse, eram veias
anestesiadas. Subjugadas por um sono letárgico – e o tempo era um adiamento
perene, a medida de um devir que não teria lugar nos interstícios da história.
O gigante adormecido despontou numa
alvorada igual às demais. Começou por sentir um prurido que fermentava um
entendimento diferente das coisas. Era como se os olhos se tivessem renovado
por dentro de si, revirados ao beberem do cálice de vinho forte que perfumava,
doravante, a existência com um aroma a frutos vermelhos. As veias inchadas eram
o sinal da disparidade. Tudo parecia dissemelhante. Já não era apenas o ângulo
pelo qual as coisas entravam no olhar. O pensamento virou-se do avesso. E até
os gestos mais mecânicos, como respirar ou andar, foram reaprendidos.
Mas eram as veias em sua ardência que
mais se faziam notar. Os archotes arfavam por dentro, fazendo latejar as veias
que pulsavam à vista desarmada. Um fogo intenso subia desde as entranhas. Agora
sentia-se no sopé de um vulcão, pronto para uma erupção esplêndida. O tempo que
se seguiu foi intenso. A exiguidade do tempo ditou a carestia do sono, minguado
à serventia mínima. Era como se sentisse que já não havia tempo para além do
horizonte do amanhã que vinha. As veias incandescentes ditavam o programa do
tempo quimérico. As ideias passavam em velocidade estonteante, tanta que não as
conseguia domar em folha de papel. Algumas ficaram emolduradas em gravador,
onde a voz trémula, incendiada pelas veias efervescentes, bolçava esquemas de
pensamento originais e poemas ora sublimes, ora grandiosos. Mercê das veias em
ebulição, as forças não tinham míngua.
Alguém lhe dissera que andava
estranho, que nem parecia ele que como se dera a conhecer. Alguém, ainda mais à
vontade, perguntara se não andara metido em mistelas ilícitas, tanta a energia
a transbordar. Não querendo perder tempo com justificações que não julgava
devidas, rematava a conversa com um olhar desinteressado. O mesmo olhar raiado
fruto dos vestígios dos archotes em consumição por dentro das veias. E depois
partia. Partia rumo ao que viesse de vir.
Nunca tirara tanto partido do tempo.
Deitava-se para o par de horas de sono pela frente. Convencido que aquele tempo
valia por cinco. E não, não queria saber de onde viera o combustível que ardia
nas veias.
Sem comentários:
Enviar um comentário