In http://static.euronews.com/articles/237596/606x341_237596_over-300000-attempts-to-access-porn-a.jpg?1378284196
Fio condutor?
Num rio, agora também em Paris, ao
que mandam constar as últimas notícias, um peixe não pode ver testículos que se
manda a eles furiosamente. No mesmo dia em que uma inconfidência revelou que os
deputados do parlamento britânico viram, desde computadores instalados no
parlamento, material pornográfico por trezentas mil vezes. As mesmas notícias
mandam-nos viajar até ao México. Uma loira anónima terá assassinado a sangue
frio dois motoristas de autocarros sob pretexto da vingança, pois ela e outras
mulheres foram violadas por motoristas que conduziam autocarros à noite.
A dispersão geográfica cerceia a
lógica de um fio condutor. Mas a lógica não se interrompe com barreiras
geográficas. É imaterial, flutua sobre as adversidades do terreno, salta
oceanos, não se intimida com os elementos da natureza que possam ser
obstáculos. Paris, Londres e México oferecem, porventura, um fio condutor que
homenageia a lógica. É o maldito sexo, tão maldito quão diabolizado pela igreja
e envergonhado pelos costumes. Quando é contabilizado como pecado, servido como
fruto proibido, amontoam-se comportamentos a que os costumes colam rótulos
impiedosos e que mancham de vergonha quem neles é apanhado. De caminho, do
dorso da impudicícia vêm excessos que são o refluxo de castrações de outrora.
Alguns deputados, decerto não poucos,
a crer nas trezentas mil visualizações de pornografia, deputados da democracia
mais antiga do mundo, decaem no “pecado” (as aspas são propositadas) e vão para
o parlamento espreitar a pornografia que enxameia a internet. Onde está o mal?
Não são os deputados, em qualquer lado que seja democracia recomendável,
representantes do povo? Os tutores da moralidade avisam, na sua incontinente
vigilância da moral alheia, que a pornografia é coisa feia. Ilegaliza-se,
esconde-se dos olhos outros quando é vista. Outro espartilho. Alguns espíritos de
onde se desaloja a lucidez são acometidos por instintos carnais que não
conseguem domar. Viajamos até ao México, onde motoristas de autocarros noturnos
se aproveitaram, contra a vontade das vítimas, de mulheres utentes desses
autocarros.
Falta a vingança. A repor a
moralidade imponente que censura os “comportamentos desviantes” (e a
pornografia sê-lo-á, tal como o são os ataques selvagens à sexualidade de
mulheres vítimas de violação, tudo no mesmo saco onde jazem opróbrios, sem
distinção). A serial killer mexicana faz justiça pelas próprias mãos. Varões
cheios de boçalidade, que não conseguem reprimir o desejo que lateja nas veias,
não serão mais algozes de indefesas mulheres. Encontra, esta serial killer,
um improvável aliado: o peixe que já andou num lago canadiano e migrou para o
rio Sena. O peixe anda à cata de testículos, sem se importar se os testículos
atacados pertencem a homens acusados destes crimes que ofendem a moral
instituída. Não tem mal. Se o peixe investir contra inocentes, é a
masculinidade em geral, a de agora e a de gerações de antanho, que leva por
tabela. A ver se aprende. A não ver pornografia e a não ser violador. Que é
tudo a mesma coisa para a moral que é de desconfiar.
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