De armas a brincar. Os petizes
querem-nas de prenda. Os graúdos oferecem-nas. É só um instrumento lúdico. Não
virá grande mal se os pequenos se entretiverem a fazer de conta que se matam
uns aos outros. Anos mais tarde, quando o corpo espigar a caminho da idade
adulta e os brinquedos de plástico tiverem perdido serventia, mudam-se para jogos
de computador e de consola onde fazem de conta que são guerreiros imortais. Ou,
se imortais não são, adiam a finitude na exata media das vidas que são regra da
jogatana.
Os jovens aprendem a brutalidade em
corpos fictícios. Os mortos que encomendam são uma vírgula que engrossa os
bónus que os separam da vitória no jogo. Dos viciados, que não conheço nenhum,
gostava de saber se repetem o exercício bélico mal terminam uma guerra virtual
em pose triunfante. Voltam a arreganhar uma contenda, que o jogo trata de
inventar inimigos – e, oh!, se a história da espécie humana não é se não o
somatório de inimigos que são nutriente que mantém a espécie agarrada às
raízes. As armas, que quanto mais letais melhor, são o bálsamo imperativo. As
mortes na pantalha são faz-de-conta. Talvez os mais novos, dependentes da
adrenalina espúria embainhada nas armas com que se passeiam ao serem atores
destes jogos, percam a noção das diferenças.
Pela mão da violência imarcescível, que
se torna inata, são potenciais cultores de dramas a que não tomam bússola. Fazem-se
senhores e alguns chegam a ser senhores do poder. Uns metem-se no exército,
onde lhes prometem faraónicas guerras, nem que seja em simulados terrenos de
batalha para descarregarem a ira inoculada pelas armas de plástico que tiveram
na meninice e que continuaram a ter na adolescência de videojogos boçais.
Outros não precisam do exército para mandarem derramar sangue e ordenarem a
finitude de inocentes.
As armas letais não são entendidas
como letais. Os graúdos que mandam a carne para canhão ser vítima das guerras
por si ordenadas precisavam de passar um dia, um dia apenas, metidos a cheirar
as hostilidades. Só para terem, mais tarde, pesadelos ungidos com o cheiro das
armas misturado com o dos corpos decepados pelos estilhaços. Até que, um dia,
uma parte grande da espécie soçobre na força das armas letais que foram desarte
humana e hão de mostrar a autofagia humana.
1 comentário:
Seria uma missão inglória tentar mobilizar todos os esforços possíveis para que os petizes e os jovens tivessem a oportunidade de descobrir que o melhor "presente" é o futuro bem passado (?)
Estariam os graúdos receptivos a abdicar do critério "dois em um" que os move no momento em que escolhem /adquirem uma prenda para os mais novos (?)
Será que esses graúdos ainda não compreenderam que a moeda que compra ilusões, na vida real se transforma numa arma que dispara indiscriminadamente e a uma velocidade indomável (?)
Provavelmente não ...
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