4.9.13

Arte amoníaco


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Arte é arte. É quando um homem quiser, ou quando os críticos assim sentenciarem e houver reconhecimento público. Por este critério, muita arte não o chega a ser. Acontece com a arte anónima que não é ungida com o reconhecimento público. Materialmente falando, olhando ao conteúdo das manifestações de arte, um liberal que se preze tem abertura de espírito para ter como arte manifestações que podem ser corpos estranhos à maioria. É (também) aqui que o liberal se afasta dos conservadores que vivem sitiados por estreitos quadros mentais e desaprovam manifestações artísticas que, sendo provocadoras, esbarram nos preconceitos conservadores.
O coletivo de intervenção “casaBranca a.c.” apresentou uma performance intitulada “Art piss (on money and politics)”. O vídeo da performance está disponível em http://vimeo.com/62237213. Os artistas espalham papeis pelo chão que reproduzem fotografias de políticos nacionais e estrangeiros – supõe-se, políticos que tiveram e têm o poder nas mãos. Também há reprodução de símbolos do capitalismo. Depois de espalharem os papeis pelo chão, as artistas despem-se do ventre para baixo e põem-se de cócoras. Os artistas desembainham o falo da braguilha. Todos urinam em cima das imagens escolhidas. Não interessa se o fazem ao acaso, ou se cada artista escolhe um ódio de estimação. O público exulta. Seja pelo simbolismo da performance, seja porque tem a oportunidade de ser voyeur de um ato tão íntimo como despejar as águas retidas na bexiga. À medida que uns artistas se aliviam são substituídos por outros que fazem fila para a função. O público deve ser convidado a encharcar de urina a imensa tela de figurões, caso lhe apeteça e se desembarace de vergonhas.
A manifestação artística foi reprovada da direita à extrema-esquerda. Acho mal. A provocação é uma arte. Se tanto dizemos, à boca pequena, coisas feias dos que nos governam aqui e lá fora, ao ponto de os mandarmos a um lugar que apela à escatologia, ou os condenarmos a terem prazeres carnais, despejar urina em cima de retratos de políticos odiados e de símbolos capitalistas que motivam o nojo de tanta gente é um ato de criatividade que quadra com a arte.
Não há aqui nenhuma ironia. Um liberal, tão cultor que é do capitalismo, devia repudiar o ultraje a símbolos do capitalismo. Mas o liberal aplaude a criatividade e celebra a tolerância que se traduz na liberdade de expressão. Foi preciso um rasgo de imaginação para verter em arte o que tanta gente diz dos políticos e do capitalismo já não em surdina. Daqui segue uma proposta ao coletivo de intervenção casaBranca a.c.: que a saga prossiga. Retratem-se a si mesmos e espalhem as fotografias pelo chão. Depois metam-se dentro de gigantones que retratem os figurões odiados. Como preparação, os artistas da performance devem tomar um laxante. A tempo de evacuarem em cima das fotografias espalhadas no palco de ocasião. Assim como assim, não é o que se diz dos políticos que se marimbam para os governados?
(Sem ironia. Nem que seja da fina.)

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