13.9.13

O avesso do avesso


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O avesso que há em todos os mortais. Forrados os interstícios que nos percorrem, às vezes transbordam de onde pertencem. Ficam à mostra, os antípodas da normalidade. Fundem-se os espíritos, adulterada a habitualidade, e o avesso mostra a ossatura quase sempre ocultada, a ossatura que é estrutural ao ser. Dizem que o avesso não é bonito de ser ver. Que as pessoas viradas do avesso incarnam numa bestialidade (que vem de besta, de animal) sem pergaminhos. Alguns são furacões indomáveis. Transfiguram-se, empossados de uma fúria que arremete contra as venalidades que descem de seu pedestal.
O avesso tem o avesso. Outra imagem de o ver. Não é o forro que em nós se aloja. É o forro que o forro comporta. Outra camada que não se julga existente. Os mais simplistas correm a atestar que o avesso do avesso, em sendo contrário do avesso, é a reposição da normalidade. Afinal, argumentam, o oposto do oposto é a negação do que já houvera sido negado pelo oposto. A ideia é simplista, pois nem tudo se resume a um binário. Lá porque temos dois olhos, duas pernas e dois braços, dois hemisférios, e alguns se dividem em duas personalidades, o resto não tem de se acantonar em amostras binárias.
Ponto de ordem: o avesso do avesso não é a reposição da normalidade. É o avesso que se vira do avesso, desdobrando-se noutro forro que ninguém sabia que havia (nem o seu titular). O avesso do avesso é uma raridade. Desagua quando os sobressaltos trazem estampada a urgência. Quando há dilemas que se julgaria impensáveis e, contudo, carecem de resultado. O avesso do avesso pode-nos atirar para enredos embaraçosos, enigmas que não oferecem fácil desempate. É quando a têmpera clandestina é testada. O avesso, circunstância que se ilide da regra, cavalga em desafios tonitruantes. O avesso do avesso é quando as veias estão quase a rebentar, como se o dique não conseguisse aguentar a pressão das águas caudalosas. É a legítima prova dos nove.
Uns sucumbem, derrotados. Outros tiram as medidas ao avesso virado do avesso e sorriem ao alto quando bebem do cálice triunfal. Uns ficam sequestrados pelo avesso do avesso, resignados ao que julgam não ser. Outros despojam-se do avesso do avesso. Não que ele deixe de o ser e as costuras da normalidade retomem seu lugar; mas porque aceitam que o avesso do avesso é o lugar a que pertencem. 

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