In https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg6wWxsdafI6FRs8DfpuR_MubcLTgSVxnsxC0x8kgtTH17KEyyugD4h3yQwa_ss5vnhpmF2Pf_p-AbAYoRIffkpY84cQeuoe1VZ1DCMt2B_-XE7rWFQaRetWA8tbknEN8IQzFk/s320/17_ok.jpg
O avesso que há em todos os mortais.
Forrados os interstícios que nos percorrem, às vezes transbordam de onde
pertencem. Ficam à mostra, os antípodas da normalidade. Fundem-se os espíritos,
adulterada a habitualidade, e o avesso mostra a ossatura quase sempre ocultada,
a ossatura que é estrutural ao ser. Dizem que o avesso não é bonito de ser ver.
Que as pessoas viradas do avesso incarnam numa bestialidade (que vem de besta,
de animal) sem pergaminhos. Alguns são furacões indomáveis. Transfiguram-se,
empossados de uma fúria que arremete contra as venalidades que descem de seu
pedestal.
O avesso tem o avesso. Outra imagem
de o ver. Não é o forro que em nós se aloja. É o forro que o forro comporta.
Outra camada que não se julga existente. Os mais simplistas correm a atestar
que o avesso do avesso, em sendo contrário do avesso, é a reposição da
normalidade. Afinal, argumentam, o oposto do oposto é a negação do que já
houvera sido negado pelo oposto. A ideia é simplista, pois nem tudo se resume a
um binário. Lá porque temos dois olhos, duas pernas e dois braços, dois
hemisférios, e alguns se dividem em duas personalidades, o resto não tem de se acantonar
em amostras binárias.
Ponto de ordem: o avesso do avesso
não é a reposição da normalidade. É o avesso que se vira do avesso,
desdobrando-se noutro forro que ninguém sabia que havia (nem o seu titular). O
avesso do avesso é uma raridade. Desagua quando os sobressaltos trazem estampada
a urgência. Quando há dilemas que se julgaria impensáveis e, contudo, carecem
de resultado. O avesso do avesso pode-nos atirar para enredos embaraçosos,
enigmas que não oferecem fácil desempate. É quando a têmpera clandestina é
testada. O avesso, circunstância que se ilide da regra, cavalga em desafios
tonitruantes. O avesso do avesso é quando as veias estão quase a rebentar, como
se o dique não conseguisse aguentar a pressão das águas caudalosas. É a
legítima prova dos nove.
Uns sucumbem, derrotados. Outros
tiram as medidas ao avesso virado do avesso e sorriem ao alto quando bebem do
cálice triunfal. Uns ficam sequestrados pelo avesso do avesso, resignados ao
que julgam não ser. Outros despojam-se do avesso do avesso. Não que ele deixe
de o ser e as costuras da normalidade retomem seu lugar; mas porque aceitam que
o avesso do avesso é o lugar a que pertencem.
Sem comentários:
Enviar um comentário