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Há gente que pensa com os pés. Como
aqueles que procuram justificar o injustificável – se estivermos de acordo que
a violência, qualquer violência, escorrega por entre o lodo do injustificável.
(Eu sei: estou enganado, enfeitiçado por um naco de lirismo, e que as coisas na
sua insuportável forma de ser são a negação das líricas formas de as ver.)
Ouço e peço meças à atenção para
escutar sem interferências de pensamentos outros: dois idosos reclamam inocência
para um burgesso que agrediu outro porque este teve o despautério de manifestar
a sua liberdade de expressão. Os dois convergem no diagnóstico: a liberdade de
expressão do agredido foi à guisa de provocação (para o agressor). Como se
repõe a (soez modalidade de) justiça? O provocado, em sentindo-se provocado,
atropela a liberdade de expressão daquele que julga seu provocador e atira-lhe
dois covardes sopapos no pescoço (covardes, pois foram largados pelas costas).
Lição que daqui se retira: antes de exercer o mais básico direito à liberdade
de expressão, há que adivinhar se alguém vai acusar a posição de provocado. É
que os provocados inflamam-se de fúria e podem resolver à maneira do homem das
cavernas uma contenda que nem sequer devia ser contenda. A liberdade de
expressão combate-se com a contrária liberdade de expressão.
Estes valentes que empestam as
redondezas com a sua boçalidade violenta são espécimes perigosos. Acham que
intimidam quem tem a ousadia de se situar nos antípodas das posições que ocupam
(pois que divergir é uma ousadia, e das intoleráveis, ao que se faz constar).
Intimidam, primeiro, como tentativa de dissuasão dos que vierem de lados
diferentes. Se a intimidação não for bastante, as palavras cavalgam para a ação
violenta. Como gostam de dizer, ufanos, sem talvez perceberem o primarismo a
que se abraçam, “tudo se resolve com uns sopapos”. Nem que, à falta de física
coragem para serem os próprios a distribuir os prometidos sopapos, encarreguem
uns mercenários da violência a soldo de uns quantos cobres. Ah, tanta a
coragem!
Folgo em saber que há quem assim
pense: que divergências e provocações (ou que assim o sejam entendidas) podem
ser resolvidas à bofetada, ao pontapé, ou mesmo ao tiro quando a provocação
seja de lesa majestade. Sejamos todos tutores deste ignóbil comportamento. E
assim sucessivamente, até sermos todos um bando de selvagens que pensa com os
pés e atua com as patas.
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