In https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgTyOqD2apDajn9TeSOXYlqJkS7p5Dhe4UvEmFj_jonYMKYbSoWCyrmC4mDeSTy4bgLhz2N65X3_n3D2FMlXMqbZbOxENopUs358gXZdHs2wHLMX4hVNDNdr-CdPrC6fF0PDg1icg/s400/50_bEstorninho.jpg
O lenço que tiras do pescoço esvoaça com
o vento que o leva. Não é diferente do voo dos estorninhos que desenham uma
coreografia que parece ensaiada. Dir-se-ia que o vento comanda a vontade, que
estamos sitiados pela força bruta dos elementos. Ensinados que a natureza não
se doma, e irremediavelmente incréus, julgamos as danças (do lenço e dos
estorninhos) como um sortilégio. E logo hoje, que o vento sopra de tantas
feições e retorce a bússola para todos os lados que tem, não há regra que
comande uma razão de ser do vento. Deixamos as explicações para a alquimia que
é um oculto desfeito nas intempéries do inexplicável.
E o que interessa a razão? Perde-se
tempo com ela, desgastam-se tentativas de encontrar o fio à meada, e quase
sempre as perguntas cavalgam sobre as respostas porque estas não chegam a ser
nascituras. Desviamos o olhar para – talvez – coisas mundanas, coisas pequenas
que, todavia, encerram uma grandeza sibilina. O olhar regressa aos estorninhos
que não se cansam do voo coreografado. Repousa nos gaiatos em audível algazarra,
naquela felicidade pura que será desfeita pelo entendimento do mundo. Na ordem
das orquídeas que aformoseiam as varandas das casas. No casal de velhos que
passeia vagarosamente, os rostos enfaixados em rugas pronunciadas e um olhar
feito de mel que veste um amor que dura há uma vida inteira. Ou no executivo
engravatado que lê as notícias da finança mundial embalado pelos solavancos do
metro em hora de ponta, não se importunando com a miséria que viaja na
carruagem. Os olhos que se encerram mergulham numa viagem mental, deambulam
pelas paisagens admiráveis que já foram visitadas. Pela tela imaginada que
passa diante dos olhos fechados importamos outras paisagens vindas dos livros e
das fotografias que tão bem as retrataram. Viagens mentais enquanto o vento
sopra no rosto, alisando as rugas que o envelhecimento queria selar.
Num assomo, depois de cair no
precipício das ilusões adestradas pela alquimia, os olhos voltaram a contemplar
tudo em redor. Era como se o mundo, todo o mundo, tivesse sido metido naquele
lugar.
“Ainda
aí estás, ó mundo inteiro?”
1 comentário:
Estou...
Beijos:)
Enviar um comentário