12.9.13

Alquimia (para memória futura)


In https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgTyOqD2apDajn9TeSOXYlqJkS7p5Dhe4UvEmFj_jonYMKYbSoWCyrmC4mDeSTy4bgLhz2N65X3_n3D2FMlXMqbZbOxENopUs358gXZdHs2wHLMX4hVNDNdr-CdPrC6fF0PDg1icg/s400/50_bEstorninho.jpg
O lenço que tiras do pescoço esvoaça com o vento que o leva. Não é diferente do voo dos estorninhos que desenham uma coreografia que parece ensaiada. Dir-se-ia que o vento comanda a vontade, que estamos sitiados pela força bruta dos elementos. Ensinados que a natureza não se doma, e irremediavelmente incréus, julgamos as danças (do lenço e dos estorninhos) como um sortilégio. E logo hoje, que o vento sopra de tantas feições e retorce a bússola para todos os lados que tem, não há regra que comande uma razão de ser do vento. Deixamos as explicações para a alquimia que é um oculto desfeito nas intempéries do inexplicável.
E o que interessa a razão? Perde-se tempo com ela, desgastam-se tentativas de encontrar o fio à meada, e quase sempre as perguntas cavalgam sobre as respostas porque estas não chegam a ser nascituras. Desviamos o olhar para – talvez – coisas mundanas, coisas pequenas que, todavia, encerram uma grandeza sibilina. O olhar regressa aos estorninhos que não se cansam do voo coreografado. Repousa nos gaiatos em audível algazarra, naquela felicidade pura que será desfeita pelo entendimento do mundo. Na ordem das orquídeas que aformoseiam as varandas das casas. No casal de velhos que passeia vagarosamente, os rostos enfaixados em rugas pronunciadas e um olhar feito de mel que veste um amor que dura há uma vida inteira. Ou no executivo engravatado que lê as notícias da finança mundial embalado pelos solavancos do metro em hora de ponta, não se importunando com a miséria que viaja na carruagem. Os olhos que se encerram mergulham numa viagem mental, deambulam pelas paisagens admiráveis que já foram visitadas. Pela tela imaginada que passa diante dos olhos fechados importamos outras paisagens vindas dos livros e das fotografias que tão bem as retrataram. Viagens mentais enquanto o vento sopra no rosto, alisando as rugas que o envelhecimento queria selar.
Num assomo, depois de cair no precipício das ilusões adestradas pela alquimia, os olhos voltaram a contemplar tudo em redor. Era como se o mundo, todo o mundo, tivesse sido metido naquele lugar.
Ainda aí estás, ó mundo inteiro?

1 comentário:

Ondas disse...

Estou...

Beijos:)