A lua cheia está tão grande como não há memória. Irradia uma luz branca que parece um sortilégio. Perfuma a quimera dos amantes, quando seguem de mãos dadas pela noite fora sob os auspícios da luz que se faz mágica. A lua assim tão grande, insólita, é testemunha dos sentimentos maiores que se compõem numa combustão única. São os sentimentos que presidem à essência das almas que por eles se entronizam sob a pálida luz das velas que acompanham o repasto. Os copos de vinho não embaciam os olhares. Os olhares dirigem-se à lua que, de tão grande, parece deitar-se à cabeceira da mesa. Os olhares contagiados pelo sortilégio de uma tão cheia lua entrecruzam-se. Falam por mais de mil palavras. São, olhares tais, mais poderosos na mensagem do que o podiam ser mil poemas de amor escritos por poetas no auge da inspiração. A lua toda é o presente maior que os amantes se podem oferecer. Pois os corpos vêm caiados pela alvura singular que irradia da luz singularmente grande. Outros dias há de enlevo e lascívia. Outros dias há que são estrofes inspiradas à combustão em uníssono que ferve os corpos. Já o dia da lua singularmente grande é como aquela estrofe que faz a diferença no interior do poema inspirado, a estrofe que é parafraseada pelos que ambicionam algum dia sorver a água fresca que vem do manancial que irrompe dos amantes. A lua assim inteira, grandiosa e luminescente, é a oferenda maior. Por dentro da sua ímpar alvura se revê a transparência das palavras, como se houvesse urgência em arrebatar uma prova da franqueza de tais palavras. Na luz clara e potente da luz tão grande aparece um vidro translúcido onde podes ver as palavras que mais importam. Aquelas que são o alimento maior que mantém os corpos em uníssono com as almas cheias de tudo o que há para dar. O ouro que há em nós, riqueza que não se mede nem deixamos que a ela peçam meças. A lua tão próxima de nós é a testemunha que lacra tudo o que dentro de nós exibe esta grandiosidade. A lua já pode regressar ao seu distante altar. Já abençoou o que tinha de abençoar.
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