In http://joaquimnery.files.wordpress.com/2013/05/dsc_0329.jpg
Desenganem-se aqueles céticos (acuso a
recepção) que se entristecem com a hipocrisia convencionada de glorificar os
mortos, ou melhor, os que acabam de morrer. Dá a impressão que os recém
fenecidos não têm defeitos, tanta hagiografia ensaboada quando alguém (em sendo
pública figura) toca de finados. Não é só assim. Os mortos também contam quando
o féretro perde prazo de validade e o esquecimento toma conta da memória
pública que tem tão pouca memória (ou muita hipocrisia). Já se sabia que assim
era nas eleições. Dizem que há muita gente morta que ainda não foi subtraída
aos cadernos eleitorais. À custa dos mortos que ainda figuram como eleitores,
também se certifica que os números da abstenção são exagerados. É um golpe de
misericórdia no regime político dado pelos que já partiram do mundo dos vivos.
Já que não podem votar, mas tudo se passa como se pudessem erguer do túmulo no
dia das eleições em direção da mesa de voto, vingam-se enquanto abstencionistas
(que não deviam ser). Eles não têm culpa. Que também não morre solteira:
atire-se o opróbrio para cima dos funcionários que tratam do recenseamento. Por
portas travessas, eles prestam uma homenagem paradoxal aos mortos que contam
como abstenção. Há dias, notícia de outro exemplo de como os mortos são gente
importante. Em Braga, por causa da peleja eleitoral dos socialistas, acharam-se
mortos entre os pagantes de quotas em atraso. Não vem grande mal ao mundo.
Assim como assim, os mortos não têm conta bancária e, que se saiba, ninguém foi
testemunha de visitas de tesoureiros socialistas às campas onde repousam os
mortos outrora filiados para cobrar as quotas em atraso. Um socialista de gema
leva os pergaminhos para o túmulo. Assim sendo, deve continuar a pagar as contribuições
para a agremiação. E repito: não vem grande mal ao mundo desta supina batota.
Seja como for, é um partido que já toma como certo o abocanhar do poder depois
das próximas eleições. Que ninguém estranhe que o candidato a primeiro-ministro
da seita inclua medidas dirigidas aos mortos nas promessas eleitorais.
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