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Se chove, é porque o chapéu não tem
utilidade para te protegeres da chuva fora de época. Se o estio arregaça as
mangas e dispara um clima africano fora do lugar, é porque o chapéu te queima
os miolos e perde serventia. Quando a chuva extemporânea incomoda os
veraneantes, a poucos é dado interrogar se no inverno também não há dias
soalheiros e ninguém se queixa que o inverno já não seja como dantes. O descontentamento
sem freio é malsão. Tens de virar as coisas do avesso, mesmo quando te parece
impossível ver as bainhas aos bolsos. Por que que te importunas se o chapéu
fica no armário? Por que não serenas com as circunstâncias que vêm como legado
do que é sempre aleatório, e fazes delas um estremecimento que abala as
convenções? É que – sabes? – um cárcere não é apenas um lugar medonho com altas
ameias a impedir as fugas de dentro para fora. Um cárcere pode nascer dentro de
nós. Se o tempo nunca está a preceito para o chapéu que cobiças pôr na cabeça,
o mal não será do tempo; o mal andará nas veias que transportam o teu sangue
fervente. As intempéries tanto podem ser tempestades como dias seguidos de sol.
O chapéu não pode ser refém do clima, ou das convenções que compões acerca do
clima. O chapéu é a tua emancipação. Enverga-o quando te apetecer. Mesmo que a
combinação destoe do paradigma da moda do momento, que essa é a menor das
inquietações que te deve consumir. Entroniza o chapéu quando te apetecer. Para
seres príncipe ou súbdito, dono das ideias ou seguidor de um pensamento,
matinal observador da natureza ou noctívago sem peias – o que quiseres. Mas não
percas as medidas de ti mesmo. Se não, acabas sitiado nos tentáculos dos
outros, ou do complexo pensamento que te atabalhoa.
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