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Porque não há quem seja de ferro. Porque não
há quem desconheça a urgência do vagar quando o corpo o pede. As forças entram
em modo de serviços mínimos. Não se esforce o pensamento. Não se esforce o
corpo. Entrega a (alguma) preguiça. Afugentam-se os sobressaltos que ainda
estejam na paragem das dúvidas sobrantes. Os olhos desviam-se para as letras
desabituais. Repõem leituras em atraso. Num revigoramento que não tem préstimo.
Os serviços mínimos são quase uma hibernação. Não se peça meças aos rituais
usuais. Não se destapem horários feitos, nem escorreguem os olhos para o relógio
no pulso esquerdo, que está despido de qualquer relógio, numa impertinência
contra a tirania do tempo. O tempo corre como quer. Sem que seja preciso domá-lo,
na vã fantasia de que somos tutores do tempo quando não entramos nos serviços mínimos.
Até pode ser que durante o tempo de hibernação se retenha alguma utilidade para
o porvir: que os olhos façam descobertas que não tenham prazo de validade a coincidir
com os serviços mínimos e delas haja um proveito a contagiar-se para além do
tempo que deles sobra. O que conta é não fazer planos. Pois os planos deitados
no estirador, em período de serviços mínimos, são um atentado à letargia
imperativa. Não se peçam raciocínios eloquentes. Não se peçam medidas
ambiciosas. Não se peça água frondosa ao corpo que carece de repouso. O fósforo
acende-se apenas na centelha necessária para embaciar a escuridão. Pois estar
em serviços mínimos não é (foi-o dito lá atrás) hibernação completa. Sobra um
algo que mantém a candeia iluminada. Pois dela há sempre falta, ou um qualquer
coma mental apodera-se de tudo. A medida dos serviços mínimos não é pautada por
bitola alguma. Fazê-lo seria capitular na antítese do que se demanda. A medida
será o que, no vapor do instante, for determinado. Com o mais puro arbítrio do
tempo desembaraçado que não aceita freios que o sopesem.
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