In http://adventurelightingblog.files.wordpress.com/2010/02/light-switch.jpg
Dizem que é o fim do tempo. Dizem que
ninguém pode confiar em ninguém. Que todos assaltam a sua própria dignidade, na
vertigem da autofagia. O sol deixou de ser testemunha da alvorada. Parece noite
perpétua. Com tempestades terríficas, os animais todos imersos no pânico. No
pino da desordem, os tumultos tomam conta das cidades e de todos os lugares
habitáveis. O lixo amontoa-se por todo o lado. Os cães vadios competem com
gente danada pelos restos utilizáveis que sobram do lixo. No cais, só há navios
fantasmas. Os marinheiros fugiram mal souberam das tempestades assassinas que
descompuseram os mares. Já ninguém governa. A polícia ausentou-se. As prisões
são lugares fantasmas. Os foragidos partiram em demanda de assaltos, outros em
demanda de vingança atrás dos magistrados que deram ordem de prisão. Já nem as
televisões emitem, nem os jornais saem à rua. No meio da saque e da desordem,
os fautores souberam que o poder cair-lhes-ia nas mãos se silenciassem a
informação. As pessoas perderam o norte. O boato foi o sucedâneo imperfeito das
notícias ausentes. A desinformação campeava. Não tardou e já ninguém confiava
em ninguém. Foi como se os relógios perdessem fulgor e, contaminados pelo
veneno do destempo, decaíssem até deixarem de falar as horas. O tempo passou a
ser uma medida paradoxal: parecia que se arrastava, sem fim e, ao mesmo tempo,
corria célere. O amanhã era sempre uma incógnita excruciante. Ninguém podia
dizer que conseguia vingar no torpor do dia presente. No estertor da incerteza
larvar, cada vez mais gente passou a dirigir as preces para o termo das mágoas.
Não valia a pena ser ator, involuntariamente ator, de um teatro atroz para onde
foram atirados. O hoje é que passou a ser a incógnita excruciante. E todos
diziam, à boca pequena, sempre para a boca do lado, que ao último competia a
tarefa de fechar a luz. Só então seria possível o sossego que tinha sido
obliterado por gente sem escrúpulos.
Sem comentários:
Enviar um comentário