26.8.14

A marcha do orgulho


In http://www.jcnet.com.br/banco_imagem/images/prisioneiros%20Ucrania%20-%20reuters.jpg
A indignidade das guerras, ou de todas as vezes em há homens em discordância que decidem humilhar os que se lhes opõem. Não é laudatório da história da espécie. Nuvens mais sombrias podem acastelar-se, um dia, e a sequaz intolerância genética será o punhal que sela a extinção da espécie. Às vezes, parece que a humanidade está sitiada numa autofagia demencial. Aproveita-se o tempo para ultrajar o adversário (que, nestas alturas, arrosta com um infausto substantivo: inimigo). Vi rebeldes pró-russos a obrigarem prisioneiros de guerra a marchar nas ruas, para gáudio dos organizadores da marcha e do seu séquito, agrilhoados uns aos outros, num ato de humilhação pública. Dizem as notícias que terminada a marcha dos tristes humilhados, vieram camiões lavar as ruas por onde tinham marchado, contrariados, os prisioneiros de guerra. A humilhação quebra os adversários. Torna-os moles, mas avilta a vitória de quem assim consegue triunfar. A humilhação não é o lacrau dos vencidos, é a exibição de fragilidade dos que forçam os outros à marcha da humilhação. Um oxalá: sempre que houvesse marchas de humilhação, os submetidos à covardia (dos que no momento estão entronizados no poder) pudessem ter força anímica para responder com um comportamento insólito. Os prisioneiros de qualquer guerra não deviam desfilar de rosto fechado, olhos semicerrados apontados ao chão, consumidos em sua vergonha, humilhados nos andrajos que trazem em cima do corpo, ultrajados pelos insultos da horda que triunfalmente os apouca. Deviam ostentar um sorriso lhano, um brilho nos olhos, a cabeça emproada, o queixo acenando em tom de agradecimento a cada insulto proferido pelos transeuntes em exultação. Não deviam dar o braço a torcer aos torcionários que os empurrassem para a marcha da vergonha. Nem que desconfiassem que, feita a desfeita aos algozes, depois pudessem sofrer sevícias como paga pelo contratempo. Mas saberiam, nem que tal fosse fraca recompensa, que no final das contas a marcha da humilhação tê-lo-ia sido para os funestos carrascos.

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