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A indignidade das guerras, ou de todas as vezes
em há homens em discordância que decidem humilhar os que se lhes opõem. Não é
laudatório da história da espécie. Nuvens mais sombrias podem acastelar-se, um
dia, e a sequaz intolerância genética será o punhal que sela a extinção da
espécie. Às vezes, parece que a humanidade está sitiada numa autofagia
demencial. Aproveita-se o tempo para ultrajar o adversário (que, nestas
alturas, arrosta com um infausto substantivo: inimigo). Vi rebeldes pró-russos a
obrigarem prisioneiros de guerra a marchar nas ruas, para gáudio dos
organizadores da marcha e do seu séquito, agrilhoados uns aos outros, num ato
de humilhação pública. Dizem as notícias que terminada a marcha dos tristes
humilhados, vieram camiões lavar as ruas por onde tinham marchado, contrariados,
os prisioneiros de guerra. A humilhação quebra os adversários. Torna-os moles,
mas avilta a vitória de quem assim consegue triunfar. A humilhação não é o
lacrau dos vencidos, é a exibição de fragilidade dos que forçam os outros à
marcha da humilhação. Um oxalá: sempre que houvesse marchas de humilhação, os
submetidos à covardia (dos que no momento estão entronizados no poder) pudessem
ter força anímica para responder com um comportamento insólito. Os prisioneiros
de qualquer guerra não deviam desfilar de rosto fechado, olhos semicerrados
apontados ao chão, consumidos em sua vergonha, humilhados nos andrajos que
trazem em cima do corpo, ultrajados pelos insultos da horda que triunfalmente
os apouca. Deviam ostentar um sorriso lhano, um brilho nos olhos, a cabeça
emproada, o queixo acenando em tom de agradecimento a cada insulto proferido
pelos transeuntes em exultação. Não deviam dar o braço a torcer aos
torcionários que os empurrassem para a marcha da vergonha. Nem que
desconfiassem que, feita a desfeita aos algozes, depois pudessem sofrer
sevícias como paga pelo contratempo. Mas saberiam, nem que tal fosse fraca
recompensa, que no final das contas a marcha da humilhação tê-lo-ia sido para
os funestos carrascos.
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