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Às refeições, sushi. Apenas peixe cru
sabiamente laminado, ungido de molho de soja quanto baste, com uns traços de mostarda
verde e de gengibre em finas películas aciduladas. Só sushi na dieta. Seguindo
as tradições dos grandes mestres da cozinha japonesa, sem as adulterações que
os ocidentais e os chineses (ó suprema heresia) trouxeram para os restaurantes que
vulgarizaram o sushi no ocidente. No entretenimento, banda desenhada manga.
Para todos os feitios. Narrando os feitos de quando o Japão era império.
Narrando proezas sociais, que afinal os japoneses foram-se aculturando às
frivolidades ocidentais. Banda desenhada manga, género infantil, para entreter
os sobrinhos de tenra idade quando ficavam a seu cuidado. Como os japoneses, era
o epítome da calma e da paciência. Ocultando, todavia, uma fúria irreprimível
quando achava que alguém lesara a honra, altura em que despertava do
adormecimento o samurai selvagem e implacável. Guardava nos arrumos uma coleção
de espadas impecavelmente afiadas, à espera do dia em que a honra sofresse a
mácula e reclamasse redenção. Se havia traços da idiossincrasia japonesa tradicional,
noutros era a aculturação cosmopolita que os mais puros da cultura nipónica tinham
como abastardamento. Usava cabelos coloridos e espigados, mais parecendo que o
pente era objeto desconhecido, como os mais jovens que viajam do Japão
inebriados pelo hedonismo ocidental. Ia mudando de cor de cabelo em função de
uma complexa equação onde entravam, como variáveis: a estação do ano, o clima
dos últimos sete dias, a prevalência de amores ou de desamores e a música
consumida no momento. Mas o japonês tinha passaporte português, não se conhecia
linhagem familiar vinda do Japão. Nunca tinha ido ao Japão. Tinha tudo o demais,
acima narrado. Faltava-lhe a tez amarelada e os olhos rasgados. Nem por isso deixava
de se achar japonês. Até a língua falava com fluência, para admiração dos
genuínos japoneses que com ele travavam conhecimento. No seu íntimo era japonês
de gema. Mal sabia que os japoneses que considerava seus pares o tinham (apenas)
como japonês acidental.
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