12.8.14

Os lugares sem nome

Os viajantes passam o dia a conhecer terras novas. Para lá chegarem, passam por uma miríade de outras terras novas. Fazem o exercício da toponímia dos lugares. Dos lugares com nomes excêntricos, aos lugares com nomes sem sentido, e ainda aos lugares que têm nomes que não hão de ficar gravados na memória. Anotam os nomes dos lugares num canto da memória resgatado para o efeito. Trocam impressões sobre os nomes dos lugares por onde passam, nem que seja para apenas matar conversa que derrota o tédio das distâncias imensas que parecem ainda maiores mercê da paisagem inóspita que se arrasta no tempo. Pelo caminho ficam os lugares sem nome. As terras de ninguém. Concedem: para as convenções territoriais dos homens, para os arquitetos que desenham as linhas dos mapas que separam os domínios administrativos dos lugares, não há lugares sem nome. Até o lugar mais inacessível tem uma pertença, desta forma definida por quem desenha os mapas políticos das terras. Mas essas são convenções e, como convenções que o são, são artificiais. A maior parte dos lugares não tem nome. E se bem que haja decerto quem se tenha lembrado do mesmo, não consta que os lugares sem nome vivam mortificados por não terem tido a mercê batismal. Pode até constituir uma injustiça dos homens: ele há tantos lugares que são pedaços de uma paisagem luxuriante e que, por não serem habitados, não têm nomes que sejam nomes que são dados aos lugares habitados por gente; têm outros nomes, que assinalam um feito ou um predicado da paisagem que distinguem tais lugares. As coisas são como são. Em não havendo gente suficiente para habitar todos os lugares, a geografia que se sobrepõe às pessoas dita a abundância dos lugares sem nome. Não é à custa do anonimato forçado que os lugares sem nome são subespécies na toponímia dos territórios. 

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