LCD Soundsystem, "I Can Change" (live at Jools Holland), in https://www.youtube.com/watch?v=q-G1NltxNqE
Mitos urbanos. Perpetuam-se, ou deixaram
de ter chão? O anátema não é novo: os tempos que passam deixam atrás um lastro
de mudança. As experiências são a peugada. Renovam e, de outras vezes, atiram o
corpo para a desilusão. Invoca-se a tradição. Como se o tempo fosse fautor da
sua própria cristalização e tudo fosse sempre igual, sem folhas gastas a
caucionar a gesta da transformação. Os tradicionalistas são um destempero.
Fecham as janelas às possibilidades que desconhecem. Fogem das novas
experiências, por temerem que as zonas de conforto onde se albergam se desmoronem
ao serem confrontadas com a novidade. Nem sequer entendem que a fragmentação
das zonas de conforto não é um mal necessário. Podem trazer, as fontes de
mudança, áreas insondáveis, uma reinvenção que não se desperdiça (um lúcido não
desperdiça). Dizem: o desconhecido, predicado da mudança, é um roteiro de que se
tem receio. Pode trazer armadilhas escondidas, ardis com o pretexto de os entrelaçarem
numa teia inextricável. Preferem ser ovelhas num rebanho seguidor de ordens.
Das ordens que completam as convenções do mundo. Se tiverem de ficar sitiados
na sua liberdade, é o preço pela ausência de sobressaltos. Teimam na ideia de
que as árvores morrem de pé. Mas o que interessa viver com a morte como
horizonte? Interessa passar pelos dias como se fossem matéria infecunda? As
árvores morrem de pé. Mas enquanto permanecem vivas, na sua aparente
perenidade, irradiam uma luminescência que rivaliza com os dias mais soalheiros
ou com a luz branca que se esvai de uma lua cheia que se agiganta sobre a terra
noturna. Mais importante é gritar bem alto que as árvores mordem de pé. Mordem
o tempo que as congraça e delas quer ser espartilho. As árvores não são o
torpor imóvel que parecem e em que perecem. Irrompem entre as contingências do
tempo, desligando-se da aparente imobilidade que as parece consumir. Ao
contrário: as árvores, penhoras das mudanças larvares, são domadoras do tempo. Por
isso mordem em pé.
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