15.8.14

Regra de três simples

As bolas de Berlim, com creme ou sem ele, continuam a ser um quadro impressionista nas praias. Os vendedores ambulantes carregam nos braços duas caixas com o produto. As caixas não são refrigeradas, a não ser pelas portinholas que deixam entreabertas, para o calor dos bolos acabados de fabricar se dissipar entre o calor estival que faz. Não se vê a polícia dos costumes, outrora mais ostensiva na sua presença que se dizia a favor da saúde pública, a perseguir a venda ambulante de um bolo que faz as delícias dos veraneantes. Deixá-los alambazarem-se com a guloseima. Ninguém tem nada a ver com o colesterol alheio e a adiposidade que os veraneantes levam de férias (assim como assim, a camada adiposa conquistada protege dos rigores do inverno). Pela areia andam também vendedores ambulantes, ora de óculos de sol certamente contrafeitos, ora de vestidos ligeiros que as senhoras gostam de usar em tempo tão quente. Ou um senhor velhinho a pregar a venda do Borda d'Água para 2015. Não parece que sejam agentes comerciais devidamente licenciados pelas autoridades. Os consumidores agradecem o mercado que não tem outras regras se não as que são feitas pela interação entre quem vende e quem está interessado em comprar. Os veraneantes também agradecem que a polícia de costumes fique à porta da praia:eles podem usar os fatos de banho que entenderem, podem ou não lambuzar os corpos com protetores solares, podem ficar a torrar ao sol quando o sol está nas suas horas perigosas, sem que um zeloso polícia dos costumes ande, transpirado, pela areia a aconselhar os comportamentos aconselháveis. Regra de três simples: o socialismo tem efeitos adversos na responsabilidade individual. Instala nas pessoas um vácuo de responsabilidade que as atira para os braços paternalistas dos engenheiros sociais que têm o leme do Estado. Se o socialismo anda arredado da paisagem estival, há outros laivos que são um freio fora da vontade humana. Fiscais dos impostos, disfarçados de turistas, andam à cata de alojamentos de férias clandestinos. A cobrança de impostos a tanto obriga. Um dia destes, inventa-se uma compensação qualquer (uma semana de férias paga num resort, em regime de tudo incluído) para quem participar às autoridades a localização de apartamentos de férias que fogem à alçada do fisco. O socialismo não é, definitivamente, uma coisa decente. (Ou caímos no regime de dois pesos, duas medidas, pois a delação era tenebrosa na ditadura mas parece aceitável sob a égide do socialismo.)

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