19.8.14

Capitalismo suicidário (take 4)


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O lucro, ou a ganância de o obter, é o mau presságio do capitalismo. Isto podia ser o argumentário de um marxista, ou o fadário de alguém que transita pelo pessimismo antropológico. Os tempos não andam fáceis para liberais e anarco-capitalistas. Desta vez não há conspiração de trevosos esquerdistas, com o beneplácito de plumitivos habitualmente sensíveis às esquerdas, para encostar à parede capitalistas. Desta vez, foram os capitalistas (alguns capitalistas) que, desastrados, se puseram a jeito para serem peixe apanhado na rede da sua própria avidez. Ele são os banqueiros sedentos de poder e dinheiro que ficaram remetidos à desgraça. Ele são empresas que reivindicam a si mesmas um lugar de incontestável reputação e têm, pela calada, práticas que são a antítese da lisura. Empresas que faturam o que não devia ser faturado, talvez apostando na distração dos consumidores que não conferem o que vem na fatura. Ou uma empresa multinacional de telecomunicações (que abusa do vermelho na publicidade) a intimar o consumidor a pagar duas vezes o mesmo serviço. Perante a perplexidade do cliente, a empresa admite que não tem registos da fatura que prova o pagamento (e provaria que a intimação para pagar uma segunda vez é indevida). E o cúmulo da insolência: o cliente que tem a fatura provando o pagamento é que tem de enviar fotocópia dela para não ser mais incomodado pelos advogados ao serviço da empresa multinacional (e que tratam estes assuntos com a delicadeza de uma besta). A poderosa empresa multinacional acusa o cliente de falta de pagamento e é ele, cumpridor, que tem de provar que não está em falta. Afinal o que se ensina nas faculdades de direito (quem acusa tem o ónus da prova) deve ser letra morta quando estas empresas poderosas se relacionam com os seus, porventura muitos, néscios e tementes clientes. Deve existir uma ilha dentro do Estado de direito que admite que estas prepotentes empresas vivam à margem dos esteios do Estado de direito. Com comportamentos destes, percebe-se que as esquerdas e, sobretudo, as esquerdas radicais tenham de existir. Estes exemplos de capitalismo suicidário constituem prova de vida da extrema-esquerda.

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