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Aos sacerdotes vários (com e sem sotaina)
que sobem a um púlpito de onde julgam comportamentos alheios; aos que devem ter
íntima existência tomada pela perene apoquentação; aos que não se importam de alvitrar
sobre o que não lhes diz respeito e, ainda assim, não sucumbem na vergonha.
Para todos eles: deixem os prazeres
alheios à solta. Deixem-nos voar por dentro das asas de quem os transporta, que
são aqueles a quem os prazeres interessa, pois a eles revertem nos sentidos. Que
se deixem, os Torquemadas risíveis, de erguer o dedo censório, de puxar a corda
a argumentos bafientos, talvez de esconder uma reprimida inveja. Deixem os
hedonistas em seus floridos campos. A eles os prazeres vários, sem a mácula do
pecado ou a insinuação torpe da anormalidade. O que foge da normalidade é haver
gente que tem tanto tempo livre (ou uma insignificante existência própria), que
trata de atirar a lama da culpa para os que perseguem devido a terem prazeres
que, julgam, deviam ser proibidos.
Os prazeres são prazeres. Revelam a
grandeza de quem neles se deita. Um desassombro. Fruem-se no império da
liberdade que em cada um tem cabimento. Se por acaso alguém se dedica a
prazeres que julgamos incompreensíveis, viremos o rosto para o outro lado,
ensimesmemos os lados redondos onde encontramos os nossos próprios prazeres,
deixando os prazeres dos outros ao seu império volitivo. Os sacerdotes, com ou
sem sotaina, que sentenciam sobre prazeres de gente outra deviam ser banidos da
palavra (hipótese última da censura). Não dignificam a sua própria liberdade ao
cometer um soez atentado à liberdade daqueles em que vertem a voragem dos
vómitos que fazem passar por opinião. Mas não é opinião. Ou, em o sendo,
guardem-na no obscurantismo dos seus profundos seres, deixem-na aí, gasosa em
seu estado. Guardem a culpa para a atirarem para cima de si mesmos, quando
encontrarem o chão viscoso em que se consomem as suas particulares
apoquentações e delas vicejar uma culpa que nunca é admitida.
Quanto ao demais, deixem o prazer medrar
sem culpa. Ou chegará um tempo em que os alvejados pela sua ira censória terão
um duplo prazer: aquele sobre o qual reverte a ira dos censores (a culpa do
prazer) transfigurada em prazer da culpa. No prazer da transgressão metódica.
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