In http://static1.custojusto.pt/mi/full/8500577280-motalli-bolonha-50-cm3.jpg
Do rodapé de uma notícia: ladrões que foram
apanhados porque faziam delinquência em motoreta de cinquenta centímetros
cúbicos.
O amadorismo chega a ser enternecedor. Ou
isso, ou a indigência em que se embebem os néscios que se julgam super-heróis
do gamanço. Devem ter, ainda assim, feito pecúlio; pois da notícia também
constava que a zona tinha sido varrida por “assaltos em série”. Mas um dia, a
função correu mal. Sobrestimando capacidades, a adversidade da luz diurna para
a empreitada e a probabilidade de haver muita gente acordada em durante o dia,
os ladrões já regressavam de outro assalto quando foram interceptados por
populares (na linguagem jornalística, os populares contrastam com as forças da
segurança. Estão para estas como os civis para a tropa de quartel). Não
consumaram o roubo porque faltava potência à motoreta. Foram atraiçoados pelo
veículo, não conseguiram fugir dos arredores do crime.
Os aprendizes de criminoso não sabiam
nada de tática do gamanço. É preciso um plano de contingência. Sobretudo na
hora da fuga, não vá dar-se o caso de “testemunhas oculares” (outro preciosismo
semântico dos plumitivos) deitarem o olho na mão sagaz que vai à propriedade
alheia e desatem a correr atrás dos meliantes, frustrando a ação. Poderão
alguns, os habituais que se comiseram com as infaustas condições em que o abominável
capitalismo mergulha os desvalidos, certificar que a culpa não é dos
atrapalhados gatunos. É da crise, que põe tanta gente à míngua, abandonada a um
estado de necessidade que a faz ser, em desespero, gente ladra para prover a
autossubsistência.
Não sabemos se assim foi. Podia ser
gatunagem gratuita, a preguiça de trabalhar substituída pelo gozo de enriquecer
ao ser parasita do suor dos outros. O que é um amadorismo cinzelado a penas de
alcatrão. Nem todos têm a destreza de Bonnie e Clyde. Como em tudo na vida, só
um escol é que se safa. Os outros, nem conseguem irromper na espuma da
mediocridade.
A televisão decidiu chamar-lhes “ladrões low cost”.
(Ó criativa semântica!)
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