Ty Segall, "Feel", in https://www.youtube.com/watch?v=oEskAdhy9WM
Dizem que há um poente irrecusável. É onde se
faz tarde, onde o sol se deita e não regressa na consolação das almas. Dizem
que esta sucessão de ocasos diários não é infinita. No estirador das certezas,
uma há que não consome tempo a ser esboçada: não vamos a caminho da
imortalidade.
Temos de aprender com a marcha latente dos
calendários que se desprendem das janelas que sobre nós espreitam. Uma
encruzilhada de tempos entrecruza-se na maciez do tempo. Às vezes, não damos
conta de o tempo passar. Depois vem uma efeméride ecoar nas memórias,
destapa-se a poeira que a acamava nas ilustrações para memória futura e
reparam-se os esteios que atam a distância temporal entre o acontecimento e o
momento em que é tirado do bornal das memórias. Sentimo-nos hipotecados pela
bruma efémera do tempo. Do tempo ausente, do tempo vindouro, do tempo que é o
tempo único que tem serventia saber existente, o agora que se consome em instantes
e afivela o húmus que deixamos.
Outras vezes, não há maneira de o tempo
atravessar os oráculos que o aprisionam. É o tempo da procrastinação. Tiramos
uma medida do adiamento das coisas, por temor das resoluções necessárias, ou
apenas porque somos madraços do tempo futuro. Nas suas medidas todas, passa por
nós e só o sentimos como brisa ululante a sussurrar ao pescoço, sobretudo
quando temos a medida do tempo gasto em coisa alguma, selando o desperdício em
estado puro. Não, nem vale a pena deitar mão ao arrependimento, que não há como
deitar ao tempo uma retroativa medida (a não ser aos que desgastam o tempo
sensível com o retrovisor que lança âncora ao pretérito, essa perfeita
inutilidade).
Somos um corpo que envelhece. Os sinais estão à
mão de semear. As árvores centenárias recusam o estertor que delas seja
consumição. Dormem de pé. Livram-se das folhas caducas. Mas não é sinal de
envelhecimento. É uma astúcia para se reinventarem depois da hibernação. Pode
parecer que vêm abaixo; não há maior engano: estão em demanda das forças para se
tornarem altivas quando chegar o momento certo.
1 comentário:
Obrigado pelo texto! Aproveitando o assunto, a quem interessar, nos forneceu um link para um teste onde podemos identificar o seu tipo de procrastinador:
http://www.playbuzz.com/sidartal10/que-tipo-de-procrastinador-voc
É baseado no livro de uma psicóloga chamada Linda Sapadin (“It’s About Time!: The Six Styles of Procrastination and How to Overcome Them”, Penguin Books, 1997).
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