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Vicejava o musgo ardiloso, aquele que freia
os movimentos e deixa o corpo exausto, incapaz de reagir. Parecia doença –
duvidava no íntimo do ser. Talvez a perplexidade viesse fermentada na lava
pujante que sempre fora uma existência sem grande cadastro de maleitas. Mas
tinha de dar a mão à palmatória: não era normal a míngua de forças, não sabia o
que era querer dar andamento ao corpo e o corpo deitar-se na letargia.
O médico foi assertivo no diagnóstico: “uma maleita exótica (e disse o nome técnico,
um latinório), daquelas que se apanha em
viagens à África subsaariana.” “Mas
nunca tinha andado por essas paragens”, retorquiu, à medida que a ansiedade
crescia no rubor do rosto que dividia a palidez que o consumia. Ato contínuo, o
médico continuou a ser perentório: “então
foi contágio.” “E como se podia dar o
contágio?”, perguntou, assoberbado pela placidez do médico, enquanto sentia
o chão fugir debaixo dos pés. A informação chegou sem demora: “estar num sítio e partilhar o ar que se
respira com alguém que esteja infetado.”
Foi para casa a rebobinar as semanas
anteriores (o médico dissera que a incubação pode ir até quatro semanas).
Queria lembrar-se do sítio onde esteve a partilhar a atmosfera apertada com
alguém que pudesse estar infetado com a doença. Era uma tarefa inglória. Ainda
perguntou ao médico, em deslize racista (de pergaminhos tão intoleráveis nos
dias que correm) se o contágio era feito por negros. O médico deixou-o sem
resposta, ao mesmo tempo que o entreolhava com reprovação. Ele arrependeu-se no
instante seguinte: não se lembrava de tamanho deslize racista. Só podia ser a
desorientação da doença.
O pior foram as semanas depois. Em quarentena
total. Nem podia ser em casa, que os demais corriam o risco de contágio. Ficou
confinado a um quarto asséptico, numa ala do hospital que parecia um lugar
fantasma, quase sem vivalma a não ser os enfermeiros que vinham dar a toma de
medicamentos, usando uma fatiota quase parecendo astronautas. Julgou que ia
morrer. Não da doença. Do tédio da quarentena. As semanas de encerramento
pareciam um tempo sem fim. Antes tivesse hibernado. Antes tivessem dado uma
injeção de sono duradouro, para não ter de suportar a privação da quarentena.
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