Darkside, "Metraton", in https://www.youtube.com/watch?v=VFfKPZhY16Q
Um: parar debaixo dos hélices de uma
eólica e imaginar que o vento era tão forte que desprendia a haste do lugar,
adivinhando a catástrofe que viria a seguir.
Dois: ouvir uma música – uma é medida
bastante – do David Fonseca.
Três: latir ao ouvido de um cão e ouvi-lo
miar enquanto coça as pulgas da orelha com uma das patas da frente.
Quatro: comprar as obras completas de
Marinho Pinto e aprender prédicas acerca da moral. Ato contínuo, aprender com o
ilustre doutrinador como os homossexuais (vulgo: paneleiros) devem ser
afastados das criancinhas, pois em cada paneleiro há um pedófilo potencial.
Cinco: marchar às arrecuas pelas ruas
mais inclinadas de São Francisco enquanto a terra treme sob o efeito de um
terramoto, transportando na mão um copo com álcool com um pavio aceso que não
pode cair sob pena de provocar o efeito de um cocktail molotov em cima das pernas.
Seis: pretender que se é crente e meter
as pernas ao caminho até encontrar o primeiro confessionário onde reclama a
presença do padre para confessar os pecados e depois ficar em silêncio até que
o padre, incarnação de Cavaco Silva, incomodado por lhe roubar tempo, perguntar
ao que veio.
Sete: comer papas de sarrabulho embutidas
com cominhos, acompanhadas de vinho verde tinto, acompanhado por folclore
minhoto servido por uma junta de vozes esganiçadas.
Oito: acordar depois de catorze horas de
sono sem saber se é manhã, tarde ou noite, porque alguém pregou paredes às
janelas e dentro do quarto está um breu petrificado que faz lembrar a
possibilidade de ter descido às masmorras por um crime que não cometeu.
Nove: ouvir o Moita Flores perorar sobre
física quântica depois de lhe ter sido pedida opinião (douta, a opinião) sobre
Marcuse e Darkside (sem nunca ter lido Marcuse ou ouvido Darkside).
Dez: subir ao cume do vulcão e sentir um
tremor que vem das entranhas a contaminar-se às entranhas do corpo, fugindo a
sete pés antes que o vulcão vomite das entranhas um frémito de pedras
incandescentes, tropeçando nas pedras pontiagudas que há pelo caminho até
aterrar, exausto e cheio de sangue derramado pelo corpo, nos lençóis que fecundaram
o pesadelo. E perguntar se a doença mental é não conseguir ser louco.
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