21.10.14

Torcer os números até eles dizerem o que queremos

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Há manipulações para todos os gostos. Umas são grosseiras e quem as comete é vilipendiado. Dizem que não vale fazer batota e a desonestidade da manipulação não é boa medida. Outras são – como dizê-lo? – suaves reinterpretações que fermentam novos números, mais simpáticos como descrição da realidade.
Como se consegue o milagre? Mudam-se as bases de cálculo, adicionam-se novos pressupostos, mete-se na soma o que dantes estava excluído e, no fim, também se está a torcer os números. Só que estas manipulações nem se chamam oficialmente manipulações; são revisões de métodos, metendo numa nova alcáçova o que dantes, por pruridos da moral e por impedimento das leis, estava excluído. Mas não se pode dizer que é batota, porque a manipulação (que oficialmente não o é) veio ungida com a bênção dos organismos oficiais que fazem estatísticas.
Vem isto a propósito de a União Europeia ter concluído que devia incluir uma variável aleatória no cálculo do PIB que metesse na riqueza dos países uma estimativa dos efeitos económicos da prostituição e da droga. E, de repente, o PIB aumentou 2,5 por cento. Não é o milagre das rosas, que as coisas tão imorais e ilegais que passaram a contar para as contas são tudo menos rosas; mas é um milagre que fez crescer o tamanho da economia. E, de caminho, consegue (por artes da ilusão estatística) diminuir o peso da dívida pública e do défice orçamental nas contas dos Estados. Que vão a caminho de respeitar os açaimes que a União Europeia colocou no défice e na dívida.
Os tráficos (de carne branca e de substâncias que levam os consumidores para dimensões cósmicas) mexem com muito dinheiro. Já toda a gente sabia. Estando essas atividades fora da lei e dos costumes, todo esse dinheiro aquece a economia subterrânea. A economia que não conta para as contas. Agora, isso mudou. Só faltou à notícia explicar que contas usaram os estatísticos de serviço para concluírem que as atividades que passam debaixo da mesa significam mais 2,5 por cento na economia.
À falta de dados, ficam as consequências. Primeiro, o exercício é paradoxal. Se as meninas que vendem prazeres carnais e as drogas de diverso calibre são banidas pelos costumes ao ponto de estarem em fora da lei, como podem contar para as contas que calculam o PIB? Segundo, pode ser que este seja o primeiro passo para a legalização do que não devia ser ilegal.

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