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Há manipulações para todos os gostos. Umas são
grosseiras e quem as comete é vilipendiado. Dizem que não vale fazer batota e a
desonestidade da manipulação não é boa medida. Outras são – como dizê-lo? – suaves
reinterpretações que fermentam novos números, mais simpáticos como descrição da
realidade.
Como se consegue o milagre? Mudam-se as bases
de cálculo, adicionam-se novos pressupostos, mete-se na soma o que dantes
estava excluído e, no fim, também se está a torcer os números. Só que estas
manipulações nem se chamam oficialmente manipulações; são revisões de métodos,
metendo numa nova alcáçova o que dantes, por pruridos da moral e por
impedimento das leis, estava excluído. Mas não se pode dizer que é batota,
porque a manipulação (que oficialmente não o é) veio ungida com a bênção dos
organismos oficiais que fazem estatísticas.
Vem isto a propósito de a União Europeia ter
concluído que devia incluir uma variável aleatória no cálculo do PIB que
metesse na riqueza dos países uma estimativa dos efeitos económicos da
prostituição e da droga. E, de repente, o PIB aumentou 2,5 por cento. Não é o
milagre das rosas, que as coisas tão imorais e ilegais que passaram a contar
para as contas são tudo menos rosas; mas é um milagre que fez crescer o tamanho
da economia. E, de caminho, consegue (por artes da ilusão estatística) diminuir
o peso da dívida pública e do défice orçamental nas contas dos Estados. Que vão
a caminho de respeitar os açaimes que a União Europeia colocou no défice e na
dívida.
Os tráficos (de carne branca e de substâncias
que levam os consumidores para dimensões cósmicas) mexem com muito dinheiro. Já
toda a gente sabia. Estando essas atividades fora da lei e dos costumes, todo
esse dinheiro aquece a economia subterrânea. A economia que não conta para as
contas. Agora, isso mudou. Só faltou à notícia explicar que contas usaram os
estatísticos de serviço para concluírem que as atividades que passam debaixo da
mesa significam mais 2,5 por cento na economia.
À falta de dados, ficam as consequências.
Primeiro, o exercício é paradoxal. Se as meninas que vendem prazeres carnais e
as drogas de diverso calibre são banidas pelos costumes ao ponto de estarem em
fora da lei, como podem contar para as contas que calculam o PIB? Segundo, pode
ser que este seja o primeiro passo para a legalização do que não devia ser
ilegal.
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