13.10.14

Os gatos poltrões

In http://www.riograndedonorte.net/wp-content/uploads/2013/02/gatos-de-rua.jpg
De há uma semanas a esta parte, consumia a pausa matinal a observar os gatos nos terraços das redondezas. Saía à varanda com a chávena de café, não importava que estivesse de chuva ou que o sol ainda tisnasse a pele. Às vezes, perdia a noção do tempo e as colegas chamavam-na de regresso ao trabalho. Era como se estivesse a escrever um romance mental e os gatos vadios que encontravam pouso no terraço à volta fossem personagens do enredo.
Catalogou os gatos. Eram oito. Comiam no canto de um prédio, onde uma velhinha, de certeza embebida em solidão, a aplacava através do convívio com os gatos. Falava com eles. E eles aproximavam-se de cauda em riste, o rosto emproado, dir-se-ia que extasiados com o odor que vinha de dentro dos sacos onde a velhinha guardava o repasto. Comiam até se empanturrarem. Depois, um ou outro ensaiava uma peleja lúdica, mordiscavam o pescoço, alçavam a mão para esbofetearem o rival. Lavavam-se demoradamente, humedecendo uma das mãos que era atirada contra os bigodes que ainda albergavam vestígios da comida. O asseio só findava quando notassem que nos bigodes já não havia sujidade.
Coçavam as orelhas. PorventuraCoçadadecomida.estavam m . ali fcidae de gatos que exemplifica os antmetem contra os comportamentos sedentefeiçndo o sono. ali fCoçaC as pulgas nidificavam nos gatos. E depois deitavam-se ao sol (se o dia fosse soalheiro) ou refugiavam-se no alpendre (se estivesse chuva), à espera do sono. Não havia insónias. Dobravam-se sobre o dorso, encaixando a cabeça junto dos pés e aterravam num sono demorado. Alguns dos gatos, em havendo dias mais frios, recostavam-se uns nos outros à procura do calor que contagiavam reciprocamente. E dormiam. Horas a fio. Não os importunavam os aviões que têm rota de aterragem por cima dos prédios e já voam baixo, ruidosamente. Não se incomodavam com as ambulâncias e os carros da polícia que anunciam, com estridência, as sirenes de uma urgência qualquer. Não queriam saber das donas de casa que vêm à varanda estender roupa lavada, ou despejar as migalhas que estavam na toalha embrulhada que veio de uma refeição anterior. 
Ao fim do dia, quando ela voltava à varanda para arejar do ar pesado de um dia de trabalho, retomava a catalogação dos gatos. Não faltava um. Ainda dormiam todos. Alguns, na mesma posição em que estavam por volta dos meados da manhã. Outros mudavam de pouso, mas mantinham-se leais ao sono. Estavam gordos. Pudera! Deixá-los ser poltrões e alegres como acharam a alegria naquele terraço.

Sem comentários: