Colourbox, "The Moon is Blue", in https://www.youtube.com/watch?v=lT2b6wxHIO0
O rapaz sabia que era estrangeiro naquela
terra tão distante. Tudo era diferente. O que se falava, o que se comia, a
maneira como as pessoas sorriam, a frieza com que falavam umas com as outras, o
frio que era mais frio do que alguma vez sentira, a cor do luar.
Entre a constelação de coisas diferentes,
o que mais o intrigava era a cor do luar. O céu estava quase sempre coberto de
nuvens e roubava o luar só para si. Era uma sensação esquisita. Da terra de
onde vinha, o céu noturno destapava-se de embaraços e mostrava a exuberância da
lua quando ela subia no firmamento a resplandecer sobre o planeta. Mas ali,
eram as nuvens que mandavam. Aliás, já do sol se podia dizer o mesmo: quase
sempre estava ausente. Com o andamento do tempo a caminho do equinócio do inverno,
a luz emprestada pelo sol encolhia-se, deixando uma pálida claridade de pouca
duração a adejar sobre o dia. Mas não era tanto do sol que sentia falta;
precisava de contemplar o quadro efervescente que era a irradiação do luar, a
lua que ficava, imperatriz, a ungir os lugares todos com a luz branca como só
ela sabia fazer.
Uma noite, por fim, o desejo do rapaz estava
à mão de semear. As nuvens tinham decidido arrimar a outros lugares. O céu
estava nu, preparado para exalar a visita da lua cheia aprazada para aquele
dia. O rapaz nem jantou. Subiu a um promontório perto da cidade, porque julgava
ficar mais perto do céu onde pontuava a mágica lua. Foi digerindo as diferentes
fases da lua à medida que as horas avançavam da noite pela madrugada fora. Nem
chegou a sentir o frio glacial que se pusera na noite. Tirou fotografias,
muitas fotografias. Queria, fosse como fosse, saber de que cor era o luar.
Tinham-lhe dito que ali a lua tinha uma
cor diferente. Confirmou. Tentou anotar uns pensamentos acerca da lua que parecia
diferente da que fora dada a conhecer. Não conseguiu se não esboçar umas
palavras avulsas, nada que fosse descritivo das tonalidades inesperadas que a
lua inteira oferecia. Derrotado pelo sono e pela lua que já descia a caminho do
fio do horizonte, exangue como ele, desistiu. Não sabia de que cor era, ao
certo, aquela lua tão diferente. Mas isso também não importava. Anotou,
mentalmente, diferenças. Oxalá não lhe perguntassem quais eram, pois não sabia
o que dizer.
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