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Vamos à condição da perenidade. Discute-se
o que é perene. Diz-se que são as estátuas. Deixam personalidades firmadas num
pedestal, noite e dia, o tempo inteiro, recebendo as asperezas do tempo. Os pés
enraizados no pedestal também fazem da estátua uma metáfora: pois há um
pedestal, que é o arejo que vem ao tempo quando uma personalidade recebe distinção
de estátua. Os pedestais são abrigos dos imortais.
Desenganados estão os que ajuramentam a
perenidade das estátuas. Pois o tempo consome-as. Há estátuas que imortalizam
alguém e, todavia, a memória sobrante desse alguém é um nada junto das pessoas
que transitam pela estátua. Há estátuas que gravitam na indiferença dos
transeuntes – e são os turistas, forasteiros nessa condição, que deitam o olhar
a essas estátuas, chegando-se ao paradoxo de os turistas serem mais nativos que
os próprios nativos. E há estátuas que são depostas pelo curso da história,
quando as personalidades retratadas caem na indigência do tempo e os novos
ventos alimentam vontades que não admitem a eternidade daquela estátua. É que o
tempo tem diferentes camadas e, com elas, vêm nobilitações e desgraças ditadas
por quem comanda o império das vontades.
Pode uma estátua ser deposta? Julgam,
alguns, que a violação da memória é um atentado contra as gerações viventes e
uma aleivosia que as gerações futuras não merecem receber de legado. Julgam,
outros, que o património das estátuas precisa de renovação. Se não, um dia
destes já não há rotundas ou esquinas livres para receber bustos de eminências
pardas e menos pardas. Não são precisas lentes aguçadas para perceber o
andamento dos tempos. E que a memória se adelgaça à medida que o tempo é cada
vez mais pretérito. Como acontece com os vivos, as estátuas também têm um tempo
próprio. Deixar algumas de lado não é revisionismo do tempo que já foi. É uma
caução da memória mais próxima, levantando a cancela a personalidades mais
recentes que são credoras de efémera eternidade enquanto for seu tempo de serem
estátuas.
Nem as estátuas, mesmo sendo forjadas a
ferro pétreo, são eternas.
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