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Façamos melhor: vamos apagar a história
que não convém, aquela de que nos envergonhamos. Porque, ao apagá-la dos
registos da memória, conseguimos o milagre de fazer crer que essa história não
aconteceu, que foi apenas um pesadelo coletivo. É como se fosse possível ir aos
fundilhos do tempo, andar com o relógio para trás e passar uma vassoura pelos
protagonistas que nos desagradam. Não interessa que desse modo sejamos juízes
impondo os nosso juízos aos outros; assim como assim, somos de uma estatura
intelectual superior e o povo precisa de ser guiado como deve ser.
A extrema-esquerda não aprende com as
armadilhas que inventou para si mesma. O estalinismo, com as depurações
cirúrgicas que iam ao ponto de apagar gente (que passou a ser) incómoda das
fotografias, não se despega da espuma do tempo. O mais recente aconteceu no
parlamento, quando os deputados das seitas aí filiadas queriam impedir uma
exposição de bustos de presidentes da república porque estavam lá retratados os
que exerceram a função durante o (que insistem em chamar) fascismo. Ensinemos
aos meninos que andam pelos bancos da escola a aprender a história da grandiosa
pátria que teve foros de coisa exemplar nos tempos idos: quando nos
envergonhamos de episódios que ficaram nos anais da história, viramos a cara
para o lado de lá, fechamos os olhos, cultivamos a ignorância, fazemos de conta
que aquilo, por tão vergonhoso, não se passou. Tendo origem na presciente e muito
tolerante extrema-esquerda, ai de quem chamar a isto censura.
Era como se daqui para a frente cada
indivíduo pudesse banir do registo da memória os acontecimentos que molharam a
existência com o fracasso, as odisseias de que não se tem orgulho, e nem sequer
houvesse lugar ao arrependimento (que, é certo, é perda de tempo). Refazíamos a
história nossa como se fosse possível extinguir os episódios que não deviam ter
acontecido se o tempo futuro pudesse fazer uma aliança com os acontecimentos
passados. Lamentavelmente, os tempos diferentes não têm pontes que os unam. Pertencem,
cada qual, ao tempo de que vêm. Ir lá atrás para apagar o que não interessa
recordar é mau augúrio: de que somos perfeitos (e ainda bem que não somos) e de
que somos engenheiros que cinzelam cirurgicamente o passado em que fomos.
A extrema-esquerda não aprende a deixar
de dar tiros nos pés. Pois recordar os lamentáveis tempos da ditadura não é o
melhor seguro para que esses tempos não voltem com o regresso da maré? E
recordar esses tempos não é a melhor prova de vida para a extrema-esquerda? Eu
cá farei o que estiver ao meu alcance para não esquecer que a extrema-esquerda
existiu e continua a existir. Seria demencial fazer de conta que não conta, a
extrema-esquerda, para as contas que interessam.
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